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Blog do Juca Kfouri

Leitores FC

Juca Kfouri

17/02/2013 08h21

Hoje, na FOLHA:

JUCA KFOURI

Sua excelência, o leitor, deve ser o único patrão do jornalista. Patrão, não poltrão

APRENDI, AOS 20 ANOS, quando comecei minha carreira na editora Abril, que nem os governos nem os anunciantes podem mandar no jornalismo. Que os únicos patrões dos jornalistas são os leitores. Os únicos e quantos mais, melhor.

Aprendi, também na editora Abril, aos 45 anos, que não era bem assim e, grato por tudo que aprendi, de lá sai. E estou por aqui. E por aí.

Procurando exercer o ofício sem agredir a verdade factual, embora muita vezes com a indignação de quem não se conforma com a mentira deliberada e com a covardia.

Daí ficar feliz, apesar de com gosto amargo, quando apanho de corintianos, como eu, de palmeirenses, são-paulinos e santistas, para me limitar aos torcedores de São Paulo.

É como diz aquela jornalista israelense que sua maior gratificação está em ser criticada por árabes e judeus.

Esta semana, neste aspecto, foi novamente rica.

Apesar de aqui já ter escrito inúmeras vezes que Lula foi o melhor presidente da história do… Corinthians e que discordo, para irritação dos fiéis que acham ser mera busca de parecer imparcial, do emprego de dinheiro público no estádio alvinegro, qualquer observação crítica que faça aos outros clubes desperta a cobrança exatamente sobre tais temas -porque a paixão clubística de leitores tão emocionais anda junto com a leitura seletiva, que obnubila a memória.

Então, critico o Palmeiras porque meu time é freguês, o Santos por causa do trauma que Pelé deixou e o São Paulo, aqui tratado sempre como clube mais vitorioso do país, por mera inveja.

Torcedores de outros Estados imputam críticas sempre ao bairrismo e qualquer referência aos portugueses é vista como preconceito, mesmo que seja filho de mãe carioca, considere o Rio a única cidade especial do Brasil, para contrariedade dos paulistanos como eu, e seja neto de avó lusitana, de Trás-os-Montes.

Se escrevo que José Serra ajudou no patrocínio da Fiat ao Palmeiras é porque sou petista de carteirinha. Se denuncio os malfeitos de Aécio Neves é porque sou serrista e se acho que Lula ultrapassou os limites republicanos em seu corintianismo é porque sou um tucano de bico grande, mesmo que não seja nem uma coisa, nem outra e nem outra.

Ao contrário do que se dá nas redes sociais, no leitorado do jornal o fenômeno não parece ter a ver com a praga do analfabetismo funcional, fruto de nosso pobre sistema educacional. Trata-se, sim, desta triste moda de tratar a política como um Fla-Flu e o futebol como um jogo entre inimigos, não só entre rivais.

Tudo isso para finalizar pedindo que não se veja aqui um desabafo, mas uma constatação.

Que não atrapalha a convicção de ter escolhido a profissão certa e de, 43 anos depois, seguir exercendo-a com imensa satisfação.

Doa a quem doer.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/