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Blog do Juca Kfouri

Dor, punição e calma

Juca Kfouri

21/02/2013 11h16

Nenhuma punição aos responsáveis diretos, ou indiretos, pela morte de um torcedor no estádio é suficientemente radical.

Radical é a morte nas arquibancadas.

Excluir o clube do torneio?

Pode ser, por que não?

Ah, mas o clube não pode ser punido por causa de um bandido, até porque todos têm bandidos entre seus torcedores, como têm padres.

Sim, mas os clubes, em regra, financiam esses bandidos e não os padres, aqui entendidos como os torcedores comuns, a Fiel, no caso do Corinthians, de cuja marca uma torcida uniformizada tentou se apropriar.

Obrigar o clube a mandar seus jogos  com portões fechados?

Pode ser, por que não?

Ah, mas milhões (de padres) não podem ser punidos por causa de um bandido.

Sim, mas, então, qual a solução?

Punir o San José porque organizador do jogo?

É, a questão é repleta de nuances, mas a única solução inaceitável para ela é a impunidade.

E, repita-se, nada é mais radical do que morrer num campo de futebol atingido por um sinalizador, um rojão, o que for.

Por ironia,  aqui se propôs que o Corinthians, do alto da sua força moral adquirida com a conquista da Libertadores, deveria exigir mudanças civilizatórias no torneio sob pena de não mais disputá-lo.

Eis que o clube está, agora, diante do risco de ser dele excluído pela selvageria de um, de dois, de doze dos seus torcedores.

Mas é preciso ter muita calma nesta hora.

Primeiramente, para provar o que parece óbvio, ou seja, a culpa dos que estão detidos.

E, depois, não transformar a nova tragédia em mais uma guerra clubística imbecil.

Desnecessário lembrar que a estupidez, infelizmente, não é monopólio de nenhuma torcida e que todas elas já causaram mortes por onde passaram.

Os torcedores corintianos  (outra bobagem é dizer que não são verdadeiros torcedores corintianos, porque são sim) que estão detidos são:

Leandro Silva de Oliveira (21 anos), Tadeu Macedo Andrade (30 anos), Reinaldo Cohelo (35 anos), José Carlos da Silva Júnior (20 anos), Marco Aurélio Mecere (31 anos), Danielo Silva de Oliveira (27 anos), Hugo Nonato (27 anos), Clever Souza Clous (21 anos), Cleuter Barreto Barros (24 anos), Fávio Neves Domingos (32 anos), Rafael Machado Castilho Araújo (18 anos) e Tiago Aurélio dos Santos Ferreira (27 anos).

Alguém os conhece?

As torcidas uniformizadas os reconhecerão como seus sócios?

E aí, ex-promotores de Justiça, um que de tão incapaz virou deputado tucano e outro, igualmente, licenciou-se para virar funcionário do ministério do Esporte, cadê os cadastros desta gente?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/