Por shopping no Maracanã, governo estadual e prefeitura jogam no lixo projeto de novo parque
Para poder construir um complexo de lojas, restaurantes e estacionamentos no Maracanã, removendo o Parque Aquático Júlio Delamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, a Escola municipal Friedenreich e o antigo prédio do Museu do Índio do seu entorno, o governo estadual e a Prefeitura do Rio querem jogar no lixo a proposta de construção de um novo parque em São Cristóvão, ao lado da Quinta da Boa Vista, como mostram dados obtidos pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas.
O Parque Glaziou, de 85.500 m², ofereceria quadras esportivas, pérgolas, bosques, canteiros, lagos e grandes áreas gramadas, e estaria pronto até as Olimpíadas de 2016, deixando um verdadeiro legado para a cidade.
O primeiro projeto de revitalização do do Estádio Mário Filho mantinha todas as construções do seu entorno e integrava o Complexo do Maracanã com a Quinta da Boa Vista e o novo parque, conforme vídeo de divulgação da própria Prefeitura do Rio, em seu canal do Youtube (http://youtu.be/uOt3NnuqBwU).
Todavia, a proposta mudou após a apresentação, em janeiro de 2012, do projeto para o Maracanã da empresa IMX, de Eike Batista, que baseou a minuta do edital de concessão apresentado pelo governo em outubro.
Como a proposta prevê a construção de lojas e estacionamentos, o governo estadual informou que as atuais instalações precisam ser transferidas para o outro lado da Radial Oeste, em um terreno do Exército, mesmo local onde seria construído o Parque Glaziou, que recebeu o nome do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, projetista dos jardins da Quinta e de outros locais do Rio. Dessa forma, além do custo milionário para derrubar e reconstruir as instalações apenas para atender interesses comerciais, o projeto da IMX tira do povo carioca a chance de ter uma nova área para lazer e esporte.
A proposta de concessão do Maracanã feita pela IMX já é alvo de investigação do Ministério Público Federal, que abriu inquérito para analisar as demolições, as licitações para a compra de cadeiras e construção de catracas e bilheterias e também a audiência pública sobre a concessão, realizada em outubro com uma série de irregularidades.
No inquérito, a procuradora Marta Cristina Pires Anciães escreve que "foi ainda questionada a questão da empresa IMX ser a responsável pelo projeto do edital, pelo estudo de viabilidade e provavelmente o fato de ser a única empresa que vai apresentar a proposta de gestão". Em novembro, o presidente da IMX, Alan Adler, foi flagrado por membros do Comitê Popular da Copa saindo de uma reunião no Parque Aquático Júlio Delamare com representantes do governo do estado e federações de esportes aquáticos, para discutir a concessão do Maracanã antes mesmo da publicação do edital.
A proposta de criação do novo parque, feita pelo Centro de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da Prefeitura do Rio, está disponível neste link: http://bit.ly/WnZPL
Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro
Sobre o Autor
Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/
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