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Blog do Juca Kfouri

Galo abre o Brasileirão num jogo enlouquecedor

Juca Kfouri

21/10/2012 18h03

O árbitro baiano Jaílson Macedo Freitas é um homem corajoso.

Aos 20 minutos de jogo, no estádio Independência apinhado até o tampo (21.096 pagantes) e com a torcida do Galo protestando contra a arbitragem ampla, geral e irrestrita, Ronaldinho Galucho fez 1 a 0 em cobrança perfeita de falta e o apitador anulou, porque Leonardo Silva se atirou sobre a barreira.

Exatamente como o Fluminense fizera contra o Vasco e o gol valeu.

Para quem não acha que esteja tudo dominado, dá para justificar a interpretação do árbitro, apesar de a bola ter entrado por cima da barreira e não no buraco aberto pelo atleticano.

Eu não marcaria, mas entendo a marcação e sublinho a coragem do mau árbitro, que depois não deu um claro escanteio para o Atlético, embora, muito antes, tenha deixado passar uma clara recuada de bola para Victor também sem assinalar a falta para o Fluminense.

Que foi simplesmente massacrado pelo Galo, como poucas vezes se viu num jogo entre dois times parelhos.

Basta dizer que Diego Cavalieri fez quatro defesas milagrosas e ainda viu duas bolas irem contra suas traves, com Bernard e Jô.

Gum ainda salvou um gol na linha da pequena área e, em resumo, o Galo teve nada menos que oito, repita-se, oito chances de gol contra nenhuma do tricolor.

O único contra-ataque perigoso do Flu aconteceu em lance que Wellington Nem estava em impedimento, não observado pela arbitragem.

E o único chute na direção do gol mineiro, mas bem por cima, foi no último segundo do primeiro tempo, quando Thiago Neves cobrou falta perigosa.

Sim, se estivesse 4 a 0 não seria nada demais.

E, contra o Flu, que não perde gols, é aí que mora o perigo.

O segundo tempo seguiu no mesmo diapasão até o 10o. minuto.

Então, o Flu encaixou seu segundo contra-ataque no jogo, Fred deu com precisão para Wellington Nem e o baixinho não perdoou: 1 a 0.

Era justo?

Não, era uma clamorosa injustiça!

Mas, e o futebol é um jogo justo?

Não, sabe-se que não.

Mas,  se olharmos a campanha do Flu neste Brasileirão, qual a surpresa?

Além do mais, Diego Cavalieri é pago para defender e bola na trave não altera o placar, como se viu, pela terceira vez, aos 15 minutos, num tirambaço de Leandro Donizete.

Um espanto!!!

Neto Berola entrou no lugar de Guilherme.

Aos 23, enfim, o que parecia impossível aconteceu.

Em mais uma jogada de Ronaldinho que jogava demais, Jô recebeu dentro da área e soltou uma bomba para empatar 1 a 1.

Ainda estava longe de ser justo, mas era o mínimo.

Metade das Minas Gerais pulsava em preto e branco.

Wagner e Rafael Sóbis substituíram Deco e Thiago Neves, aos 30, mas o Galo seguia melhor, com domínio do jogo, embora sem massacrar como fizera no primeiro tempo.

E, aos 36, JUSTIÇA!

Bernard fez ótima jogada, iniciada por Ronaldinho, pela esquerda e levantou para a cabeçada certeira de Jô, no contrapé de Cavalieri: 2 a 1.

Ainda não espelhava o jogo, mas eram os três pontos que diminuíam a diferença para seis e abria o Brasileirão.

Até as montanhas vibravam, ou metade delas, com o Independência enlouquecido cantando o hino atleticano em altos brados.

Uma emoção contagiante.

Aos 39, Edinho saiu e Samuel entrou.

Então, então, então…

Aos 40, o Flu, perdido por um, perdido por mil, foi à frente finalmente, Carlinhos cruzou da esquerda, a bola passou entre as pernas de Leonardo Silva, e quem apareceu?

Ele, Fred, para fazer seu 16o. gol no campeonato, isolar-se na artilharia e marcar seu centésimo gol com a camisa tricolor.

Dizer que não era justo?

Não, não era mesmo, mas…

…mas como o que é do Galo o homem não come, Ronaldinho Galucho deu um passe de gênio para Leonardo Silva fazer o gol que fazia justiça a quem mereceu vencer e por muito mais que os 3 a 2 mais sensacionais do Brasileirão de 2012.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/