Topo

Blog do Juca Kfouri

Fanáticos do apito

Juca Kfouri

18/10/2012 14h26

Não é verdade que o Brasileirão 2012 esteja sendo decidido pelos erros de arbitragem

NÃO BASTASSE a violência física promovida pelos ditos torcedores organizados, cresce a intolerância de quem perde e que jamais aceita os méritos do vencedor.

Estimulados pelo chororô de treinadores em busca de desculpas, e desvio de foco, e por certos comunicadores que fazem tipo, despreocupados com as consequências, fanáticos atribuem tudo ao apito.

Trata-se de gente que padece de complexo de perseguição, com problemas oculares, ignorância, falta de educação e da síndrome da teoria da conspiração.

Para essa gente, que ultrapassa o emocionalismo e chega às raias da irracionalidade animal, o campeão sempre ganha roubado e o time dela nunca é beneficiado.

Atribuir a liderança do Fluminense aos erros de arbitragem que o beneficiaram, soa só como choro de mau perdedor, incapaz de perceber o papel ridículo que faz.

Sim, é verdade que os nove pontos que separam o tricolor do Galo podem ser atribuídos, secamente, aos erros a favor do Flu nos jogos contra Botafogo, Náutico, Bahia e Ponte Preta.

Porque os árbitros são ruins, despreparados, não profissionais, dependentes de uma estrutura falida que não goza da imprescindível independência da CBF, e erram.

Erram muito, erram acima da conta, são covardemente comparados ao olhar eletrônico da TV, não têm a mesma arma para ajudá-los a decidir e são pressionados pela cafajestagem dos jogadores nos gramados, dos técnicos nos bancos e dos cartolas nos camarotes.

Ou o Galo também não foi beneficiado?

Estivesse o Atlético Mineiro em primeiro lugar e seria ele o alvo das mesmas bobagens, como têm sido todos os campeões.

É claro que depois dos casos Ivens Mendes, Armando Marques e Edílson Pereira de Carvalho, no espaço de apenas oito anos, entre 1997 e 2005, há motivos de sobra para desconfianças.

Mas não para exageros.

Ou o árbitro polonês que inventou um pênalti para a seleção brasileira no belo jogo contra o Japão estava comprado?

E o alemão que anulou um gol legal da França contra a Espanha, no surpreendente empate em Madrid pelas eliminatórias da Copa do Mundo?

Assim como o português que validou dois gols irregulares do mais surpreendente e fabuloso empate Alemanha 4 x 4 Suecia?

Erros há pelo mundo afora.

Vamos devagar com o andor, sob pena de passarmos atestado de idiotas a todos que acompanham o futebol e que, assim, acabam por depor contra si mesmos, se é verdade que acreditam que esteja tudo combinado, tudo dominado.

O Fluminense tem sido o time mais regular e mais eficaz do Brasileirão. Ponto.

O resto ou é demagogia de canastrões sem credibilidade ou paixão excessiva que se transforma em burrice e falta de espírito esportivo.

Isso tudo dito por quem não se cansa de denunciar, seriamente, a podridão dos bastidores do futebol.

Uma coisa é a irritação com a falta de critérios da arbitragem nacional, que dá pênalti em bola na mão para um e deixa de dar em lance idêntico para outro.

Outra é imaginar que seja tudo roubalheira.

Em tempo: o que não exclui que se possa brincar com o assunto.

Porque uma coisa é o humor dos chargistas, outra o fanatismo dos ignorantes.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/