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Blog do Juca Kfouri

Hulk salva a Pátria

Juca Kfouri

07/09/2012 17h59

Hulk comemora gol do Brasil contra a África do Sul

Foto:Leonardo Soares/UOL

Com 20 minutos de atraso por motivos típicos de jogos da várzea — os dois times com camisas passíveis de confusão e Marcelo com camisa rasgada –, Brasil e África Sul começaram o amistoso no Morumbi, surpreendentemente mais cheio que vazio, com 51.538 torcedores, uma torcida de classe média alta, com pouca cara de torcida torcida, não sei se você entende.

E sob o coro que pedia, injustificadamente, por Luís Fabiano, coisa evidentemente dos torcedores do São Paulo, dono do estádio.

A primeira chance clara de gol foi dos visitantes que exigiram difícil defesa de Diego Alves, aos 12 minutos.

Quatro minutos depois, Dedé devolveu, de cabeça, a oportunidade de abertura do placar.

O jogo era fraco, como fraca é a África do Sul, daqueles times que Mano Menezes, com razão, dizia não querer enfrentar quando assumiu a Seleção, mas que, ao que tudo indica, as circunstâncias o obrigaram a aceitar,

A retranca africana não permitia desenvoltura ao time nacional.

Claro que seria melhor enfrentar um adversário mais qualificado que não se limitasse a jogar pelo empate, que tivesse a ambição de vencer e atuar de igual para igual.

Aos 37, as vaias tomaram conta do estádio, porque Neymar era o Neymar da Seleção, não do Santos, porque Lucas estava tímido e Leandro Damião, estático.

Além do mais, quem poderia vir de trás feito elementos surpresas, como os volantes, não vinham.

E Marcelo abria sua caixa de ferramentas irresponsavelmente.

Aos 42, Neymar teve a chance de mudar o humor da torcida para o segundo tempo, mas perdeu um gol cara a cara, ao chutar em cima do goleiro africano, depois de estupendo lançamento de Daniel Alves.

Era esperar pelo fim do primeiro tempo para medir o tamanho dos apupos, porque a massa gritava "olé" quando os africanos trocavam bola.

Os 12os. do ranking empatavam sem gols com os 74os. e foram para o intervalo sob vaias amplas, gerais e irrestritas.

Merecidas, sem dúvida.

O Brasil voltou igual para o segundo tempo, quando parecia evidente que Paulinho e Arouca poderiam mudar a cara do jogo.

Aos 2, Lucas começou bem e terminou mal uma jogada, mas foi o suficiente para ser saudado pelos tricolores no seu estádio.

Os africanos responderam com dois ataques assustadores e Neymar desperdiçou um contra-ataque por mergulhar ridiculamente no gramado, que nem molhado estava, muito ao contrário, mais seco impossível.

Só a irritação evitava o sono profundo.

E pensar que tem tanto time desfalcado em jogos importantes no Brasileirão por causa desse joguinho…

Aos 10, jogada colorada entre Oscar e Damião quase resulta em gol. Quase…

Aos 14, Marcelo, o sem noção, deu lugar a Alex Sandro, que não é tão bom, mas pensa.

Aos 18, Paulinho e Hulk, substituíram Rômulo e Damião e a torcida seguia impaciente.

Aos 27, saiu Lucas e Jonas entrou.

"Burro! Burro! Burro!"

Quem?

O Lucas? O Jonas?

Quem?

Dois minutos depois, Hulk, deu ótimo passe para David Luiz na esquerda e, ao pegar rebote do goleiro no chute cruzado do próprio David Luiz, fez 1 a 0, estufando a rede.

Como na Olimpíada, o injustiçado, pela crítica e por Romário, Hulk entrou e melhorou o time.

Até ao botar uma bola na cabeça de Neymar, que quase ampliou. Quase…

O ex-jogador do Porto, objeto de transação milionária para o Zenit, da Rússia, merece ser titular no Recife, contra a China, 78a. do ranking da Fifa.

Diego Alves teve de fazer nova difícil intervenção e Neymar, de novo, quase ampliou. Quase…

Daí, Neymar saiu sob vaias para Arouca entrar, aos 44, coisa que só Mano Menezes saberá explicar.

Aos 44?!

Para ver Arouca?

Para expor Neymar?!

No 190o. aniversário da Independência do Brasil, Hulk salvou a Pátria.

Não o suficiente para evitar as vaias ao fim do jogo, as quais, certamente, não foram para ele, que só mereceu aplausos.

Ele, o goleiro Diego Alves e, na batata, mais ninguém.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/