Federer sobrevive para o ouro!
O terceiro set começa com o sol de volta, o vento friozinho, 1 a 0 para o argentino que, segundos antes de sofrer o 1 a 1, com 40 a 40, escorrega, cai, e fica dramaticamente na grama quase por um minuto.
Nada grave.
Era apenas um tango.
Com 40 a 40 no terceiro ponto, serviço de Potro, a quadra cental entra em coro: "Roger! Roger!", mas o bravo rapaz segura o serviço com brilho.
Com um slice fabuloso, o suíço obteve vantagem no sétimo ponto, mas Potro empatou, impôs vantagem e fez 4 a 3.
"Olê, olê, olê, Delpo!,Delpo!"já se ouvia com menos timidez e, de vez em quando, "Arriba, Argentina!".
Não, não era hora de se falar em Malvinas.
E Federer fez 4/4 sem permitir um pontinho, rapidamente.
E pôs vantagem no nono ponto de novo, e a perdeu, e viu um ace do rival valer o 5/4.
A vida estava dura e o jogo excelente, principalmente para o observador diletante, privilegiado e que não tinha por que tomar partido, embora adorasse a ideia de ver Federer com a glória que lhe falta, assim como a de ver o vizinho hermano na final.
Como disse, a vida estava dura.
O suíço fez o quinto ponto como havia feito o quarto: curto e fino.
E sofreu o sexto um pouco diferente, curto e grosso mesmo.
Agora era empatar ou ver o sonho do ouro morrer.
E empatou, é claro!
Sem permitir, novamente, um pontinho, e com um slice final que… Pelé e Michael Jordan assinariam.
6/6 e sem tie-break que também pode ser chamado de desempate, que tal?
Com 7/7, Potro saiu atrás: 0 a 15, 15 a 30, o 30 a 30 foi dramático e fez o suíço berrar, além de fazer 40 a 30, para quebrar.
Mas a rede fez outro empate: 40 a 40 e Potro fez 8/7.
Faltando quatro minutos para completar três horas de jogo, o sol saiu forte na quadra e, agora, é um jornalista francês que não pára de matraquear.
Chose de loque!
No 17o. ponto, Potro servindo, 30 a 0 para Federer!
E Potro defende, sob aplausos agora gerais, o 40, e o evita como se fosse São Marcos.
Faz 30 a 30, 40 a 30 e fecha 9/8 com um ponto maravilhoso, fazendo Federer dançar, não um tango, mas uma valsa, um pra lá, dois pra cá.
J O G A Ç O!!!
Cada vez que Federer vai sacar o sol dá o ar mais forte de sua graça.
Ele sai em desvantagem, mas logo empata 9/9.
E eu que planejava ir ver o Cielo…
Nem pensar.
Teria de estar na Vila Olímpica às 17h para pegar o ingresso e estou do outro lado da cidade.
Como se fosse do Parque São Jorge ( o protetor da Inglaterra) a Interlagos.
No 19o. ponto, Potro começou com dupla falta — a primeira do jogo — e terminou com o serviço quebrado numa péssima devolução de uma bola cheia de veneno do fantástico campeão.
Agora era manter o serviço e fazer 11 a 9.
Simples, não?
Pois sim!
Potro empatou 10 a 10 sem sofrer um ponto sequer e devolvendo brilhantemente, não apenas a quebra do serviço, mas duas bolas impossíveis, que Federer fez morrer na grama e ele ressuscitou.
Com 30 a 0, por excesso de confiança, o argentino deu um ponto para o suíço, mas fez 11/10.
E lá foi o Federer buscar a igualdade. Sem dificuldade: 11 a 11.
O 12/11 também veio facilmente e o ideal era que, quase às quatro da tarde, eles parassem para almoçar.
Mas nada indicava que pensassem nisso…
12 a 12 e vida que segue.
13 a 12.
A 13.
14.
Parece até que eles combinaram: " Vamos passar a tarde em Wimbledon?".
Com uma deixadinha aqui, uma pancada ali, Roger (já estamos íntimos), faz 14 a 14.
Juan Martin não quer lhe ficar atrás, mas fica: 0 a 40.
Juan desconta: 15 a 40.
Outra vez: 30 a 40.
IGUAIS!!!
Vantagem Del Potro e…
15 a 14.
(Preciso avisar minha mãe que vou dormir em Wimbledon…).
Faltando pouco para a quarta hora de jogo, 40 a 40 no saque do suíço.
Que empata 15 a 15 ( não perca a contagem, diriam na TV).
Quatro horas de jogo.
E ninguém quer que acabe, parece.
Para que nem nunca tinha vindo a Wimbledon, já estava de muito bom tamanho.
Parei de contar.
Só volto para contar como acabou…
Bem, ainda não acabou, mas Federer quebrou Potro em 18/17 e serve para vencer e chegar à final, para frenesi da plateia, embevecida, mas cansada.
Só no terceiro set cabe um jogo inteiro de três sets.
Federer ERRA o voleio que definiria o jogo: 40 a 40.
Mas fecha em 19/17!
Wimbledon aplaude os dois tenistas em pé.
Do jeito que termino esta nota: em pé.
Emocionado.
Agora é esperar por Djokovic, que perdeu a semifinal do Torneio de Wimbledon poucos dias atrás para Federer, ou pelo britânico Murray, que foi derrotado na final…
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