A importância de se chamar Bernard
Por Luiz Guilherme Piva*
Bernard Shaw criou uma obra literária que o tornou um dos maiores nomes da história. Já idoso, assumiu posturas eugenistas que problematizaram parte de sua reputação. Morreu aos 96 anos com essa polêmica na biografia.
Bernard Madoff era respeitado como uma das maiores autoridades do mercado financeiro. Quase na velhice, criou um fundo de investimentos que produziu um dos maiores golpes da história, perdeu tudo e ficará na prisão até morrer.
Bernard, do Atlético, pequeno, jovem, simples, pegou a bola no cantinho da área, na zona morta, com um só toque deu um lençol num zagueiro do Grêmio, veio outro zagueiro e ele, de chaleira, deu outro chapéu e, sem que a bola caísse, passou de chapa, à meia-altura, para o Jô estufar a rede de voleio!
Esse lance, um dos maiores da história, manterá Bernard jovem para sempre.
Todos envelhecerão, alguns cometerão erros que empanarão seus feitos de juventude, outros nem deixarão traços do que fizeram ou poderiam ter feito ao longo da vida.
Bernard, não.
Ele ficará eternamente novo, ágil, executando sem parar o lance que fez contra o Grêmio.
Com a mesma idade, o mesmo vigor, os mesmos gestos, eternamente vivo.
Todo o resto, nós, o mundo, a natureza, os escritores, os canalhas, os comuns, seguiremos envelhecendo e envilecendo na vida real e nos retratos, até morrermos.
Todos com inveja dele, mas sem medo de dizer seu nome: Bernard.
*Luiz Guilherme Piva, uma vez até morrer.
Sobre o Autor
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