O bi, 50 anos atrás (e o famoso pênalti, que não foi pênalti...)
Djalma Santos, Zito, Gylmar, Zózimo, Nílton Santos, Mauro, em pé;
Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo, agachados.
O Uruguai já havia sido bicampeão mundial, mas se dizia, então, à luz do rigor dos dicionários, que o Uruguai era duas vezes campeão mundial, em 1930 e 1950, no Uruguai e no Brasil, porque bi só era considerado quem ganhasse duas vezes seguidas.
A Itália, não.
Era uma autêntica bicampeã, pois vencera as Copas de 1934 e 1938, na Itália e na França.
No dia 17 de junho de 1962, no Chile, o Brasil seria tão bicampeão como a Itália, pois vencera em 1958, na Suécia, primeira seleção, por sinal, a ganhar uma Copa do Mundo fora de seu continente.
E o bi veio com a vitória sobre a Tchecoslováquia, por 3 a 1.
Os tchecos saíram na frente, Amarildo, o Possesso, empatou, Zito desempatou e Vavá fechou o placar.
Uma Copa que teve uma maldição sobre o trio final do melhor ataque da história do futebol, o do Santos.
Coutinho, Pelé e Pepe, que seriam titulares absolutos, viram a final das arquibancadas.
Porque Coutinho e Pepe se machucaram antes de a Copa ter início e perderam suas posições para Vavá e Zagallo.
E Pelé, já Rei do futebol, se machucou no segundo jogo da Copa, exatamente contra a mesma Tchecoslováquia, no empate sem gols, fruto de uma distensão na virilha que doeu no país inteiro e pareceu ser fatal quando ocorreu.
No jogo seguinte, com Amarildo no lugar de Pelé, a Espanha de Puskas fez 1 a 0 e fez 2 a 0, o que, praticamente, eliminaria o time nacional.
Sabe-se lá por que, o árbitro anulou o belíssimo gol de bicicleta do húngaro naturalizado espanhol Puskas, ao alegar um impedimento inexistente.
Curiosamente, no entanto, o lance mais comentado é o que precede este gol mal anulado, quando se alega que Nílton Santos fez um pênalti em Collar na entrada da área pela direita do ataque espanhol, e deu dois passos para fora da área, engabelando o árbitro.
Não quero parecer o revisionista da história, mas convido você a ver o lance no Youtube. (http://www.youtube.com/watch?v=ybofMZAgXuU).
Constate você mesmo que o jogador espanhol se joga clamorosamente sobre Nílton Santos, que não comete pênalti algum.
O problema está em que o juiz marcou a falta que, se tivesse mesmo acontecido, teria que ser assinalada dentro da área.
Mas, enfim, como se diz que o que vale é o que ficou registrado…
Bem, o registro mais importante é que, depois, o Brasil fez uma campanha brilhante, venceu a Inglaterra com Mané Garrinha começando a fazer gols de todos os jeitos — como nunca havia feito, de pé esquerdo, de cabeça, cobrando faltas, o diabo em forma de gente.
Em seguida, nas semifinais, os derrotados foram os anfitriões chilenos com outra atuação magistral dele e, finalmente, os tchecos.
Brasil, legítimo bicampeão mundial, o segundo e último time a vencer duas Copas seguidas.
Quando veio o tricampeonato, no México, em 1970, tratamos de mudar o dicionário para sempre.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/