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Blog do Juca Kfouri

Não dá para saber quem é Cássio, o goleiro do Corinthians

Juca Kfouri

02/05/2012 10h00

POR FELIPE DOS SANTOS SOUZA*

Já se sabe que Júlio César perdeu a vaga de goleiro titular no Corinthians.

Pelo menos, por enquanto.

E que Cássio, contratado no início do ano, passará a ser o primeiro relacionado das escalações.

Começando com o jogo contra o Emelec, hoje às 22h, pelas oitavas de final da Copa Libertadores da América.

A primeira impressão que o goleiro surgido no Grêmio deu à torcida corintiana foi boa: após o 1 a 0 contra o XV de Piracicaba, não faltou quem dissesse que Cássio passava mais confiança do que Júlio César, ainda que tenha sido pouco exigido.

O que, sem dúvida, é auspicioso para alguém que será colocado num jogo desafiante para as pretensões do time de Tite na Libertadores.

Ainda assim, em termos técnicos, é preciso colocar em perspectiva o que Cássio pode oferecer.

Tem talento? Sem dúvida.

Quando surgiu, em 2007, no Sul-Americano Sub-20, impressionou, mostrando segurança (tanto é que, num Grenal de goleiros, tomou a posição do hoje titular colorado, Muriel).

A equipe de Nelson Rodrigues foi campeã, e se classificou para o Mundial da categoria, no Canadá – e, por tabela, para o torneio olímpico de futebol, em 2008.

Não bastando isso, Cássio foi premiado com uma convocação para a Seleção adulta, sob o comando de Dunga, para os amistosos contra Chile e Gana, ainda naquele 2007.

Não jogou, mas começou a ter o nome cogitado como possível futuro para a posição, em termos nacionais.

Porém, foi prejudicado: no Mundial Sub-20, a Seleção, que tinha Pato como principal jogador (com nomes como David Luiz, Marcelo, Jô e Renato Augusto), caiu para a Espanha nas oitavas de final, perdendo por 4 a 2, na prorrogação, após estar com vantagem de 2 a 0.

E, logo depois, mal tendo conseguido a posição de titular do Grêmio (disputava a reserva com Marcelo Grohe, enquanto o titular era Saja), Cássio foi-se para o PSV.

Estava sendo preparado, possivelmente, como um sucessor de Gomes, indiscutível dono da camisa 1 no time holandês.

E permaneceu lá por quatro anos.

Pouco se soube dele.

E é para isso que este texto serve: responder como foram os tempos de Cássio na Holanda.

Ou melhor, responder como NÃO foram os tempos de Cássio na Holanda.

Porque ele mal jogou no PSV.

Entre 2007 e 2011, o brasileiro fez apenas três jogos defendendo o clube onde Romário e Ronaldo fizeram fama, todos eles pelo Campeonato Holandês.

No entanto, mesmo disputando o posto de segundo goleiro (primeiro, com Bas Roorda; depois, com Khalid Sinouh), ele ainda merecia aposta.

Tanto é que, na temporada 2008/09, foi emprestado ao Sparta Rotterdam, pequeno time holandês, para substituir Cor Varkevisser, titular da equipe, lesionado.

Levou 19 gols em 14 jogos, média de 1,3 gol sofrido por jogo.

Atuações ruins?

Não: como já dito, o Sparta é pequeno (tanto que foi rebaixado naquela temporada).

Porém, Cássio retornou.

E continuou sem ser usado no PSV.

Consultado, Thijs Slegers, setorista do PSV para a revista "Voetbal International", disse:

"Cássio nunca mostrou, nos treinos, que era melhor do que Andreas Isaksson. Provavelmente, foi um desperdício."

O que, diga-se de passagem, não é indicativo de que Cássio fosse ruim.

Apenas foi uma aposta que o PSV não utilizou, nem viu razão em utilizar.

E muitos clubes europeus fazem isso.

Só para citar um exemplo, o Barcelona comprou Henrique e Keirrison, e mal utilizou os dois.

O PSV tem várias histórias de brasileiros comprados e sequer utilizados: Leandro Bonfim, Diego Tardelli…

Além disso, Isaksson é um bom goleiro. Não é da primeira linha europeia, não está perto de Casillas ou Neuer ou Buffon, mas tem seu valor no continente.

Sintetizando, Slegers diz, mais uma vez:

"Cássio não era fraco, mas também não era bom o bastante para merecer uma chance."

E é por isso que este texto conclui: a passagem de Cássio pelo futebol holandês não oferece subsídios que possibilitem uma análise sobre o que ele pode fazer no gol corintiano, a partir desta quarta.

A última visão que os torcedores brasileiros têm dele no gol vem de há cinco anos, uma eternidade em termos futebolísticos.

Mas também não há por que supor que o gaúcho de Veranópolis não possa trazer mais confiança à torcida alvinegra.

Respostas começarão a ser dadas no gramado do George Capwell, em Guayaquil.

*Felipe dos Santos Souza, já estudou jornalismo, hoje estuda História, trabalha no Museu do Futebol, em São Paulo, e conhece o futebol holandês como os holandeses. É velho amigo do blog.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/