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Blog do Juca Kfouri

Senna, Ronaldo, Basílio e Reinaldo

Juca Kfouri

23/04/2012 16h00

POR LUIZ GUILHERME PIVA*

Há jogos que demoram anos ou décadas para terminar.

Outros nem terminam: seguem em curso por eras, ou suspensos, aguardando ser retomados.

Como avisava a profecia de Daniel: há de passar um tempo, depois dois tempos e depois metade de um tempo.

Talvez por ver tão claramente esses jogos eternos destacando-se na galáxia escura Borges negasse o tempo: se você tem uma experiência que se parece com uma antiga, não são dois episódios – é um só, o mesmo, continuado.

Um exemplo: as corridas decisivas de Senna e Prost em 1989 e 1990.

Não importa a mudança de escuderia, ou de data, ou de qualquer outra coisa.

A corrida é a mesma: só demorou a terminar.

Outro. A decisão do Campeonato Paulista de 1974.

O gol do Ronaldo encerra o jogo e o campeonato somente para o Palmeiras.

Para o Corinthians o jogo ficou aberto a partir dali, e assim ficaria, um tempo, dois tempos, depois ainda metade de um tempo.

(Numa cidade de Minas, naquele dia, o irmão menor, palmeirense, comemorou e teve que correr do maior, corintiano, que queria atacá-lo com uma cadeira).

Aquele jogo só terminou para o Corinthians em 1977, no instante em que o Basílio cumpriu ou contrariou os desígnios e fez o gol do título.

Não importa que não fosse contra o Palmeiras, que a escalação fosse outra: é o mesmo jogo, que, se não fosse encerrado, manteria o Corinthians na eternidade inconclusa.

(Naquela mesma cidade, uma carreata de dois carros buzinava sem ninguém entender, e os mesmos dois irmãos iam juntos).

Já os jogos que seguem em aberto são muitos.

O principal talvez seja o Flamengo e Atlético na decisão do Campeonato Brasileiro de 1980.

O jogo – até o momento, 3 x 2 pro Flamengo – continua, com lances perigosos criados incansavelmente pelos dois times, que jogam cada vez melhor.

O público, mais de 150 mil pessoas, não arreda pé.

Há pouco, entrevistado na beira do gramado, Reinaldo declarou: "mais cedo ou mais tarde o Galo vira".

* Luiz Guilherme Piva escapou da cadeirada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/