Senna, Ronaldo, Basílio e Reinaldo
POR LUIZ GUILHERME PIVA*
Há jogos que demoram anos ou décadas para terminar.
Outros nem terminam: seguem em curso por eras, ou suspensos, aguardando ser retomados.
Como avisava a profecia de Daniel: há de passar um tempo, depois dois tempos e depois metade de um tempo.
Talvez por ver tão claramente esses jogos eternos destacando-se na galáxia escura Borges negasse o tempo: se você tem uma experiência que se parece com uma antiga, não são dois episódios – é um só, o mesmo, continuado.
Um exemplo: as corridas decisivas de Senna e Prost em 1989 e 1990.
Não importa a mudança de escuderia, ou de data, ou de qualquer outra coisa.
A corrida é a mesma: só demorou a terminar.
Outro. A decisão do Campeonato Paulista de 1974.
O gol do Ronaldo encerra o jogo e o campeonato somente para o Palmeiras.
Para o Corinthians o jogo ficou aberto a partir dali, e assim ficaria, um tempo, dois tempos, depois ainda metade de um tempo.
(Numa cidade de Minas, naquele dia, o irmão menor, palmeirense, comemorou e teve que correr do maior, corintiano, que queria atacá-lo com uma cadeira).
Aquele jogo só terminou para o Corinthians em 1977, no instante em que o Basílio cumpriu ou contrariou os desígnios e fez o gol do título.
Não importa que não fosse contra o Palmeiras, que a escalação fosse outra: é o mesmo jogo, que, se não fosse encerrado, manteria o Corinthians na eternidade inconclusa.
(Naquela mesma cidade, uma carreata de dois carros buzinava sem ninguém entender, e os mesmos dois irmãos iam juntos).
Já os jogos que seguem em aberto são muitos.
O principal talvez seja o Flamengo e Atlético na decisão do Campeonato Brasileiro de 1980.
O jogo – até o momento, 3 x 2 pro Flamengo – continua, com lances perigosos criados incansavelmente pelos dois times, que jogam cada vez melhor.
O público, mais de 150 mil pessoas, não arreda pé.
Há pouco, entrevistado na beira do gramado, Reinaldo declarou: "mais cedo ou mais tarde o Galo vira".
* Luiz Guilherme Piva escapou da cadeirada.
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