Santos 100 Pelé
Meu Santos inesquecível é o Santos de Pelé. Mas sem Pelé, porque naquela noite ele faltou*
IMPOSSÍVEL DIZER qual foi o melhor Santos que vi entre fins dos anos 50 e meados dos 60.
Certamente foi um Santos de Pelé que até fazia crescer seus rivais, em raras derrotas tão épicas como foram as infinitas vitórias.
Sim, porque como era belo o futebol do Botafogo de Mané Garrincha, do Palmeiras do Divino Ademir da Guia, do Cruzeiro de Tostão, times que se superavam para superar o grande Santos.
Que fazia arte pura, mas era capaz, também, de botar o coração na ponta das chuteiras.
Como aquele Santos inesquecível, responsável pela saúde dos meus pulmões por pelos menos dois anos, graças à promessa feita no intervalo do segundo jogo decisivo da Copa Intercontinental, em 1963, no Maracanã, contra o timaço do Milan.
Os rubro-negros tinham vencido o primeiro jogo na Itália, por 4 a 2, com Pelé e tudo. E o Rei, machucado, desfalcava o Santos na revanche, substituído por Almir, o Pernambuquinho.
No intervalo, o placar mostrava vitória milanesa por 2 a 0 sobre um Santos abatido e batido, diante de cerca de 140 mil perplexos torcedores. Foi então que São Pedro entrou em campo como devia no time dos Santos: São Gylmar dos Santos Neves; São Mauro Ramos de Oliveira; São Haroldo; São Lima; São Dorval; São Mengálvio; São Coutinho e São Pepe, coadjuvados por São Ismael e São Dalmo, além do protagonista, o Demônio Almir, que, dez anos depois, contaria ter se dopado no intervalo, prática habitual então, também, aliás, na Itália.
A noite que era quente e estrelada na Cidade Maravilhosa se transformou completamente, e uma tempestade despejou toda ira dos deuses dos estádios sobre o Maracanã, como se não admitisse que o melhor do mundo não fosse, de novo, bicampeão, o Santos de Pelé, embora sem Pelé.
Pepe diminuiu batendo falta no quinto minuto do segundo tempo sob o aguaceiro infernal; Mengálvio empatou de cabeça, quatro minutos depois; Lima mandou um balaço de fora da área aos 19 para virar, e Pepe, apenas em mais dois minutos, completou a goleada -4 a 2 como no San Siro!
Foram memoráveis 21 minutos, dignos de fazer cumprir a promessa, feita ainda aos 13 anos de idade, de ser aquele o derradeiro cigarro se o Santos de Pelé sem Pelé virasse como virou.
Vivia então o time da Vila mais famosa do mundo seu 51º ano de glórias. E feliz por ter testemunhado mais 49, e poder curtir ainda o que vem pela frente com Neymar, só resta desejar vida eterna ao Santos.
Santos, sempre Santos!
Coluna publicada originalmente na Folha de S.Paulo de 12/4/2012.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/