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Blog do Juca Kfouri

Hat-Trick

Juca Kfouri

23/03/2012 14h01

Por RAFA KLEIN*

Houve uma época em que marcar gols era algo quase proibido na Europa.

Com raras exceções, a maioria dos times e seleções européias eram adeptas do "Titeanismo": aquele 1×0 amarrado, um 1×1 disputado, no máximo, um 2×0 saudado como um feito histórico.

Era como se houvesse um acordo de cavalheiros.

Um sub-entendimento entre as partes para que o futebol fosse idolatrado pela sua sovinice.

Os únicos a não respeitar essa regra foram os húngaros nas copas de 54 e naquele jogo de 82 contra El Salvador, mas o que esperar de um povo que fala uma língua daquelas?

Pois bem. Diante da dificuldade de ver gols em profusão durante uma partida, os ingleses resolveram homenagear aquele jogador destemido, capaz de desafiar a lógica ocidental e marcar três  gols no mesmo jogo. Surgia aí a expressão "Hat-Trick".

O Hat-Trick era o máximo.

Só um Michelangelo de chuteiras seria capaz de fazer um Hat-Trick. Um Hat-Trick era o mais próximo da condição divina que um ser humano poderia alcançar.

É isso, o Hat-Trick era sagrado.

Até que um argentino tratou de bagunçar a religião hat-trickiana.

De uma hora pra outra, o Messi resolveu fazer Hat-Tricks em profusão e tornar banal aquilo que, um dia, foi cultuado com devoção pelos ingleses.

Talvez seja essa uma resposta argentina à guerra das Malvinas, talvez seja apenas a confirmação de que Messi é o apelido do Messias.

Tudo é possível.

Até uma reparação histórica à Hungria,  claro, se algum dia alguém conseguir traduzir Hat-trick para o húngaro.

*Rafael Klein Pedroso é publicitário

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/