Um pouco mais sobre um tal Guarani x Palmeiras em 1968
Por JOSÉ RENATO SÁTIRO SANTIAGO JR.*
No ano de 1968 o Palmeiras fez uma grande campanha na Taça Libertadores de América.
Após eliminar na primeira fase, o Náutico e as equipes venezuelanas do Deportivo Português e do Deportivo Galícia, com
uma campanha invicta, de cinco vitórias e apenas um empate, o Alviverde passou para a fase semifinal.
O sucesso na Libertadores provocaria adiamento em algumas partidas do campeonato paulista daquele ano.
Para se ter uma ideia, em 17 de março de 1968, o Palmeiras venceu o Comercial no estádio Palma Travassos por 2 a 0 com gols de Tupãzinho e Rinaldo.
Poucos dias depois, em 21 de março estreava nas Semifinais da Libertadores, aplicando uma goleada por 4 a 1 frente o Universidad Católica no estádio do Pacaembu.
No dia 24 de março, novamente pela Libertadores, jogou em Assunção frente o Guarany local, e sofreu sua primeira derrota na competição sul americana, por 2 a 0.
Dia 31 de março, em Santiago, venceu novamente o Universidad Católica por 1 a 0 e passou a depender de uma vitória simples frente ao Guarany do Paraguai na rodada seguinte para conquistar a vaga para as finais.
No dia 4 de abril, no Pacaembu, o Palmeiras venceu os paraguaios por 2 a 1, e conquistou seu grupo.
E o Campeonato Paulista?
Pois bem, depois de 17 de março, o Palmeiras voltou a jogar pelo Paulistão apenas em 10 de abril, no clássico frente a Portuguesa, quando perdeu por 3 a 2, após chegar a estar perdendo por 3 a 0 logo nos primeiros 20 minutos de partida.
As finais pela Libertadores foram marcadas apenas para os dias 2 e 7 de maio.
O fato é que até a realização destas finais, o Palmeiras apenas mais uma vez, em 13 de abril, na Vila Belmiro, quando perdeu para o Santos por 1 a 0.
Como o campeonato paulista era disputado pelo critério de pontos corridos, as partidas adiadas do Palmeiras seriam realizadas ao final da disputa.
Chegaram as finais da Libertadores…
Em 2 de maio, o Palmeiras perdeu para o Estudiantes por 2 a 1 em La Plata.
Na partida de volta, o Alviverde devolveu a vitória, agora por 3 a 1, o que provocou a realização de uma partida desempate, uma vez que não havia o critério de desempate por saldo de gols.
A partida desempate aconteceu em 16 de maio, e o Palmeiras acabou sendo derrotado por 2 a 0, perdendo aquele que seria seu maio título até então.
Mas ainda havia o Campeonato Paulista para disputar e uma sequência quase interminável dos jogos que tinham sido adiados.
Três dias depois, em 19 de maio, o Palmeiras voltou a campo e foi derrotado no Palestra Itália por 3 a 1 para o Santos.
No dia 22, mais uma derrota, agora para a Portuguesa por 2 a 0.
O Palmeiras só voltaria a vencer uma partida em 26 de maio por 1 a 0 frente o São Paulo.
Mas três dias depois, sofreu uma sonora goleada para a Ferroviária por 3 a 0.
Em 1 de junho aconteceu a última rodada do campeonato, conquistado com sobras, pelo Santos. Neste dia o Palmeiras venceu o Juventus por 3 a 1.
O regulamento naquela época definia que apenas o último classificado do campeonato seria rebaixado.
Até aquele momento, o Palmeiras estava em último lugar com 13 pontos, ainda restavam 10 jogos para cumprir a tabela.
Em 5 de junho, o Palmeiras foi derrotado para o XV de Piracicaba, por 1 a 0, que passou a somar 22 pontos e se livrou do rebaixamento com este resultado.
No dia 8 de junho, o Alviverde novamente é derrotado, agora pelo São Bento, por 3 a 2. Naquele mesmo dia, o Juventus venceu o América por 3 a 0 e passou a somar 20 pontos.
Veio um empate frente ao Botafogo, por 1 a 1, em 11 de junho, no estádio Palestra Itália, e a situação começava a ficar caótica pois o time não vencia, eis a classificação na parte de baixo da tabela até então:
Botafogo e XV de Piracicaba – 22
América, Juventus e Portuguesa Santista – 20
Guarani – 19
Comercial – 18
Palmeiras – 14
No dia 13 de junho, novamente no estádio Palestra Itália, o Palmeiras é derrotado por um adversário direto contra o rebaixamento, o Guarani, por 3 a 1.
Guarani – 21
América, Juventus e Portuguesa Santista – 20
Comercial – 18
Palmeiras – 14
Agora faltavam apenas 6 jogos.
Em 16 de junho, enfim veio uma vitória, por 1 a 0 frente o XV de Piracicaba.
América, Juventus e Portuguesa Santista – 20
Comercial – 18
Palmeiras – 16
A partida contra a Portuguesa Santista em 19 de junho no Pacaembu poderia significar um respiro. Mas, o Palmeiras sofreu uma convincente derrota por 4 a 2, o que livrou de vez a Santista do rebaixamento.
Agora faltavam 4 jogos, contra Botafogo, América, Guarani e Comercial.
América e Juventus – 20
Comercial – 18
Palmeiras – 16
Em 23 de junho, em Ribeirão Preto, Palmeiras e Botafogo não saíram de um 0 a 0.
América e Juventus – 20
Comercial – 18
Palmeiras – 17
A partida frente o América, dia 26 de junho, em São José do Rio Preto, era decisiva para as duas equipes. O Palmeiras venceu por 2 a 0, resultado que quase o livrava do rebaixamento.
América e Juventus – 20
Palmeiras – 19
Comercial – 18
Enfim chegamos a partida entre Palmeira e Guarani que seria realizada em 29 de junho no estádio Brinco de Ouro da Princesa.
O Guarani já estava livre do rebaixamento e tinha vencido o Palmeiras por 3 a 1 cerca de duas semanas antes em 13 de junho.
No dia 13 de junho o Guarani entrou em campo com Sidnei, Wilson, Paulo, Beto e Cido; Tião Macalé e Capeloza; Joãozinho depois Wagner, Ladeira, Cardoso depois Bidon e Carlinhos
Já no dia 29, o Guarani foi escalado com Dimas, Uilson, Cidinho, Tarcísio e Diogo; Dante depois Flamarion e Nilton; Lindóia, Ladeira, Cardoso e Zezinho.
Nota se que apenas dois jogadores atuaram nas duas partidas: Ladeira e Cardoso.
O empate por 1 a 1, deixaria a definição do rebaixamento para a última partida entre Palmeiras e Comercial no estádio Palestra Itália.
América, Juventus e Palmeiras – 20
Comercial – 18
Não foi necessário, pois o Guarani tinha duas irregularidades no jogo frente o Palmeiras. A primeira o fato de contar com José Roberto Barreto, que havia sido registrado fora do prazo e a outra a entrada em campo de Flamarion que sequer registrado estava.
Foi desta maneira que o Palmeiras conquistou o ponto que lhe faltava para fugir do rebaixamento. O TJD decidiu pela vitória palmeirense na partida de Campinas.
Palmeiras – 21
América e Juventus – 20
Comercial – 18
E olha que foi providencial, pois o Comercial derrotou o Palmeiras em pleno Palestra Itália por 3 a 2.
Palmeiras – 21
América, Juventus e Comercial – 20
Quem seria o rebaixado então?
O regulamento do Campeonato Paulista de 1968 previa como critério de definição do título e do rebaixamento apenas o número de pontos ganhos.
Sendo assim haveria a necessidade de serem realizados confrontos entre os três últimos colocados, no caso, América, Juventus e Comercial.
Disputa que contaria com a presença do Palmeiras caso não tivesse conquistado o ponto da vitória no TJD frente o Guarani.
Resultado: NINGUÉM FOI REBAIXADO!
*José Renato Sátiro Santiago Junior é engenheiro com experiência no desenvolvimento de projetos, gerenciamento de pessoas, gestão do conhecimento e implantação de novas tecnologias e inovações em empresas nacionais e multinacionais. É doutor e mestre em Engenharia pela Universidade de São Paulo com pós-graduação em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. O autor pode ser contatado pelo email jrsantiago@jrsantiago.com.br. É ainda pesquisador do http://www.memoriafutebol.com.br/forum
Nota do blog: Apesar das manifestações raivosas de uns poucos revisionistas que deveriam ir fazer livros de história na ex-União Soviética, o fato é que, oficialmente, a SE Palmeiras não se manifestou, nem poderia.
Porque o glorioso nome da instituição deve ficar a salvo dos fanáticos.
Dito isso, acrescente-se: não há, em nosso futebol, quem possa atirar a primeira pedra.
Todos, de uma forma ou de outra, aqui ou ali, têm manchas em suas histórias, às vezes por mera paixão, às vezes por ganância mesmo.
Abaixo, o documento que permaneceu inédito até que a revista do centenário do Comercial o trouxe à luz, como publicado neste blog na última quarta-feira (http://blogdojuca.uol.com.br/2012/02/a-historia-de-uma-marmelada-documentada).
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/