Por um Estatuto do Esporte
Por HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO*
"A queda de Ricardo Teixeira" acabou virando um bordão e como tal serviu também para turvar o problema maior: a CBF.
Então, não há o que comemorar: o rompimento da longevidade do dirigente se deu por razões não sabidas por todos nós?
Um nação séria não pode ter o seu órgão máximo do futebol funcionando como uma organização paralela, avessa à Constituição, à ordem e à Justiça.
Podemos chamar de máfia, quadrilha, oligarquia… o que for, mas não tem cabimento a CBF ser o que é.
A fundação de uma entidade que esteja enquadrada nos ritos da democracia e das leis do país é fundamental.
É preciso quebrar a espinha dorsal da estrutura entre senhores e vassalos (confederação e federações) na futebol brasileiro.
Nós não vamos deixar de ter os tipos de dirigentes de clube que temos, mas podemos e devemos ter instituições que se sustentem no Estado de Direito, coisa que à CBF definitivamente nunca importou.
O bom e o mau dirigente de clube ficariam, assim, com poderes limitados ao novo estatuto do futebol.
Esse estatuto precisa nascer rapidamente enquanto, senão o cadáver, as mazelas de Teixeira estiverem produzindo odores desagradáveis.
O mandonismo é irmão do desmando e do crime.
A prática criminosa em todos os aspectos da vida esportiva permeou as ações e omissões da CBF.
A sucessão na entidade se dará como uma disputa de urubus pela carniça ou pelo filé mingon dos lucros da grife Seleção Brasileira. E só.
Continuar vendendo favores, corrompendo e se beneficiando privadamente desta grife é o grande motivo da disputa.
O que vai aparecer de gente chutando "cachorro morto", no caso, Ricardo Teixeira, para agradar o público não está no gibi, mas ele, mesmo morto, pode continuar como cadáver insepulto pela herança que deixa.
Isso merece um belo debate na imprensa que não ficou e nem fica genuflexa aos desmandos dos senhores do esporte nacional.
Talvez, não querendo cometer leviandade, uma intervenção na CBF, como defende Romário, deva ser estendida para muitas outras entidades esportivas.
Pelo apelo que tem, começar a limpeza pelo futebol e fazer o enquadramento da CBF para transformá-la numa entidade civil de estatuto democrático e gestão profissional da estrutura e das coisas do futebol (inclusive direitos de transmissão), modificando totalmente a gestão das seleções, passa a ser a tarefa a se cobrar diariamente dos nossos governantes ou da nossa governanta (presidenta) e que poderá gerar jurisprudência.
Romário é peça-chave nisso e deve ter apoio da sociedade.
Não sei qual será o limite dele, mas até agora tem demonstrado coerência. Criamos o Estatuto do Torcedor, falta o Estatuto do Esporte.
*Humberto Miranda do Nascimento é professor da Unicamp.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/