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Blog do Juca Kfouri

Por um Estatuto do Esporte

Juca Kfouri

16/02/2012 11h13

Por HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO*

"A queda de Ricardo Teixeira" acabou virando um bordão e como tal serviu também para turvar o problema maior: a CBF.

Então, não há o que comemorar: o rompimento da longevidade do dirigente se deu por razões não sabidas por todos nós?

Um nação séria não pode ter o seu órgão máximo do futebol funcionando como uma organização paralela, avessa à Constituição, à ordem e à Justiça.

Podemos chamar de máfia, quadrilha, oligarquia… o que for, mas não tem cabimento a CBF ser o que é.

A fundação de uma entidade que esteja enquadrada nos ritos da democracia e das leis do país é fundamental.

É preciso quebrar a espinha dorsal da estrutura entre senhores e vassalos (confederação e federações) na futebol brasileiro.

Nós não vamos deixar de ter os tipos de dirigentes de clube que temos, mas podemos e devemos ter instituições que se sustentem no Estado de Direito, coisa que à CBF definitivamente nunca importou.

O bom e o mau dirigente de clube ficariam, assim, com poderes limitados ao novo estatuto do futebol.

Esse estatuto precisa nascer rapidamente enquanto, senão o cadáver, as mazelas de Teixeira estiverem produzindo odores desagradáveis.

O mandonismo é irmão do desmando e do crime.

A prática criminosa em todos os aspectos da vida esportiva permeou as ações e omissões da CBF.

A sucessão na entidade se dará como uma disputa de urubus pela carniça ou pelo filé mingon dos lucros da grife Seleção Brasileira. E só.

Continuar vendendo favores, corrompendo e se beneficiando privadamente desta grife é o grande motivo da disputa.

O que vai aparecer de gente chutando "cachorro morto", no caso, Ricardo Teixeira, para agradar o público não está no gibi, mas ele, mesmo morto, pode continuar como cadáver insepulto pela herança que deixa.

Isso merece um belo debate na imprensa que não ficou e nem fica genuflexa aos desmandos dos senhores do esporte nacional.

Talvez, não querendo cometer leviandade, uma intervenção na CBF, como defende Romário, deva ser estendida para muitas outras entidades esportivas.

Pelo apelo que tem, começar a limpeza pelo futebol e fazer o  enquadramento da CBF para transformá-la numa entidade civil de estatuto democrático e gestão profissional da estrutura e das coisas do futebol (inclusive direitos de transmissão), modificando totalmente a gestão das seleções, passa a ser a tarefa a se cobrar diariamente dos nossos governantes ou da nossa governanta (presidenta) e que poderá gerar jurisprudência.

Romário é peça-chave nisso e deve ter apoio da sociedade.

Não sei qual será o limite dele, mas até agora tem demonstrado coerência. Criamos o Estatuto do Torcedor, falta o Estatuto do Esporte.

*Humberto Miranda do Nascimento é professor da Unicamp.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/