Topo

Blog do Juca Kfouri

A história de uma marmelada documentada

Juca Kfouri

22/02/2012 07h48

Em 1968, o Palmeiras corria o risco de ser rebaixado no Campeonato Paulista caso perdesse o jogo contra o Guarani, em seu penúltimo jogo pelo estadual.

O alviverde da capital tinha priorizado a disputa da Libertadores e acabou tendo de jogar uma série de partidas seguidas, anteriormente adiadas no estadual.

Foi então que o Guarani escalou um time reserva e com um jogador em situação irregular, de maneira tal que se o time campineiro vencesse o paulistano poderia buscar na justiça esportiva os pontos perdidos.

Nem foi necessário porque o 1 a 1 , no Brinco de Ouro,  no dia 29 de junho de 1968,  um sábado à tarde, garantiu o Palmeiras na divisão de cima.

A história era conhecida, mas que havia sido garantida por documentos é a novidade que a revista comemorativa do centenário do Comercial de Ribeirão Preto, editada pelo jornalista Luiz Eduardo Arruda Rebouças, revela, como se pode constatar abaixo.

E com registro em cartório!

O Guarani prometeu, e cumpriu, não escalar nenhum titular e, de quebra, ainda fez entrar durante a partida o jogador amador Flamarion,  ultrapassando o limite de dois amadores por jogo.

Em compensação, o Palmeiras cedeu, por empréstimo, um jogador de graça ao Bugre.

Jogador que, em seguida, o Palmeiras vendeu ao XV de Piracicaba, razão pela qual depositou 50 mil cruzeiros na conta do Guarani.

Eram outros tempos, ingênuos até.

As mutretas eram feitas mais com a finalidade de garantir o sucesso esportivo do que em enriquecer cartolas e seus satélites.

E, para que não houvesse dúvida, até registrar em cartório se registrava…

Mas o que o Comercial tem a ver com isso, você há de estar se perguntando.

Pois foi com esses documentos, comprovando marmelada no campeonato de 1968, que o Comercial conseguiu anular sua queda para a segunda divisão em 1969, causando ainda a suspensão do descenso em São Paulo nos anos seguintes.

Rebouças e a revista do centenário do Comercial-SP (Foto: Fábio Melo/Gazeta de Ribeirão)

 Aos fanáticos, bocós de mola, sem senso de humor:

1. Quem não conhece a história está condenado a repeti-la;

2. O que mais chama a atenção no episódio, como observado na nota, é a ingenuidade do ato;

3. Quem noticiou o episódio do 1-0-0 do ex-presidente Alberto Dualib, do Corinthians, foi o blogueiro;

4. Da mesma forma foi o primeiro a denunciar as inúmeras identidades de Kia Jorabchian e seu envolvimento com a máfia russa quando da parceria MSI/Corinthians;

5. É comum um documento ter uma data e o registro em cartório ser posterior. Fraude seria o inverso, isto é (vou desenhar), o registro no cartório ter data anterior à do documento.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/