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Blog do Juca Kfouri

O desabafo de um atleticano mineiro

Juca Kfouri

10/10/2011 19h37

Por RICARDO LEITE*

Ao fim da 28ª rodada do Brasileirão, nona do returno, cheguei a algumas conclusões.

A primeira é que o melhor time do campeonato é o Internacional.

Se conquistará o título é outra história.

Quando vejo os jogos da equipe colorada fico satisfeito com o corpo que o time apresenta, jogadores que fazem tabelas em velocidade, um meio campo cerebral, boa defesa e, agora, com Dorival Júnior no banco.

Infelizmente a reação dos colorados é tardia, porque gostaria que fossem campeões.

Corinthians, Vasco, Santos, São Paulo, Botafogo e Flamengo são arremedos de time porque jogam um futebol pragmático e covarde.

A segunda conclusão é muito doída e se concretizará nessas últimas nove rodadas:

o rebaixamento provável do Atlético e o possível do Cruzeiro.

Os times mineiros vivem um processo de apequenação, se me permitem o neologismo, desde o início dos anos 80 até os dias de hoje.

O Galo é uma caricatura de clube, um gigante de pés de barro, que só é (era) levado a sério pela imprensa nacional devido a sua imensa e apaixonada torcida.

Uma instituição que vive de um título de 1971, um clube que é um verdadeiro amarelão — dói mas é verdade.

Em 1977 perdeu ridiculamente aquele Campeonato Brasileiro para o São Paulo de forma invicta — desconsideremos o regulamento absurdo e nos fiemos apenas no futebol.

No Brasileirão de 1980, nova derrota, então para o Flamengo, verdade que operado pela arbitragem, mas convenhamos, time bom passa por cima de tudo.

Na Libertadores de 1981 foi um escárnio — há de se escusar o Galo face à péssima arbitragem de José Roberto Wright, e só.

Em 1985 foi o título mais fácil que o Galo deixou escapar frente ao Coritiba — risível como o Atlético é amarelão.

Pela malfadada Copa União de 1987, novamente uma equipe, invicta até que na hora da decisão se apequenou diante do Flamengo.

No Campeonato Brasileiro de 2001 uma semifinal contra o inexpressivo São Caetano foi um melancólico ponto final da última razoável equipe do Galo.

Depois disso vieram as goleadas.

Não passava uma temporada sem que o Galo sofresse uma goleada, algo impensável em tempos passados.

Isso tudo culminou com o rebaixamento em 2005.

Pior que, diferente dos outros grandes que caíram e retornaram a Série A, o Atlético continua dando vexames.

Para os que não sabem, o Galo é a equipe que mais frequentou a zona do rebaixamento desde a instituição do campeonato por pontos corridos em 2003.

Vejo que o Atlético é um clube e uma torcida completamente descontrolados emocionalmente.

O fantasma das arbitragens larápias e dos vexames inexplicáveis assombram o povo alvinegro.

A tudo isso soma-se um presidente autoritário, arrogante que a todos aconselha e não ouve ninguém.

Como é doído para mim admitir isso.

Sou fã do Alexandre Kalil,  porque é um atleticano dos mais valorosos, muito bem intencionado, ama o nosso Galo.

Entretanto, Kalil, e peço desculpas para lhe atestar algo que lhe escapa e seria salutar você entender de uma vez por todas: VOCÊ NÃO É O ELIAS, É O ALEXANDRE.

E isso acaba por se transformar numa obsessão.

É difícil ser filho do maior administrador da história do Galo — (e penso como deve ter sido duro para o Edinho guardar a meta dos Santos).

Todavia não podemos ser injustos, Kalil, o filho, é um verdadeiro milagreiro, conseguiu colocar o Atlético nos eixos.

Hoje temos dívida equalizada, um CT que nem de longe nos faz lembrar os penosos tempos de Vila Olímpica e a ciganagem em busca de campos para treinar.

Não, isso é passado.

Porém, o Galo não é só uma empresa, é um clube de futebol que perdeu a tradição de disputar títulos nacionais, porque vencê-los nunca foi costume.

Logo, precisamos de alguém que entenda de futebol e não contrate pessoas sem identificação com o Galo como o Sr. Eduardo Maluf para gerenciar o futebol.

Essa situação alvinegra ficou tão patente que foi capa da edição 1359 da revista Placar: "Oito Soluções para Salvar o Galo", leitura recomendadíssima aos incautos e iludidos atleticanos, que são muitos diga-se.

Enquanto não exorcisarmos esses demônios continuaremos a nossa caminhada rumo ao fundo do abismo, no qual caímos há tempos.

Passo a analisar o Cruzeiro.

O clube celeste após a conquista da libertadores de 1976 ao invés de trilhar caminhos maiores acompanhou seu arquirival.

Senão, vejamos.

Um clube deve ter um rival de tradição, de grandeza indiscutível nacionalmente.

Sinceramente a questão versa de forma análoga ao brocardo do ovo e da galinha.

Não se sabe se o Cruzeiro acompanhou o processos de nanismo do Atlético ou se um foi para o outro um incentivador daninho.

Por que digo isso?

Bem, enquanto o Cruzeiro passou uma via crúcis desde a Libertadores de 76 até o título da Copa do Brasil de 1993 o Atlético ao invés de se afirmar como gigante contentou-se em levantar um Hexacampeonato Mineiro e dar vexames nacionais.

Quando os bons ventos sopraram brevemente pela Toca da Raposa o alvinegro começou seu calvário de aproximadamente uma década que culminaria com o rebaixamento em 2005.

Hoje o Cruzeiro é uma piada.

A diretoria e torcida, de uma arrogância colossal, jamais entenderam que não deveriam se comparar ao Atlético, poius devereim mira-se no grande não no decadente.

A brilhante temporada de 2003 celeste foi o réquiem para a decadência, pois, a arrogância cruzeirense transformou a chance de se tornar um potência num messiânico "Campeonato Brasileiro de 1971" para a torcida cruzeirense que, feito a atleticana, passou a viver de passado.

E essa miopia agora apresenta sua conta: o espelho reflete um possível rebaixamento.

E para que não pairem dúvidas, meus caros, é só notar que o futebol mineiro começou a deixou de ser a terceira força nacional desde meados dos anos 70, quando os gaúchos nos ultrapassaram.

Basta comparar do primeiro Brasileirão para cá: o futebol gaúcho ganhou dois mundiais de clubes e o mineiro nenhum: quatro Libertadores contra duas dos mineiros: cinco Brasileirões contra dois dos mineiros e seis Copas do Brasil contra quatro dos mineiros, todas com o Cruzeiro.

Como os números não mentem temos que o futebol mineiro não é a terceira força nacional.

Os gaúchos nos passaram há tempos devido a sua organização, disciplina, critério de gestão do futebol, além de TODOS, Grêmio, Internacional e até o Juventude, possuirem estádios PRÓPRIOS, situação bem diferente das equipes mineiras com exceção do pífio América-MG.

Não comentarei a arrogância da maior parte da imprensa mineira, caipira e atleticana, que vivia a ressaltar a decadência do futebol carioca na década de 2000 porque hoje está aí o resultado: futebol carioca novamente vencedor e brigando "nas cabeças".

Não se olhou, então, para o nosso quintal, mas para os nossos vizinhos.

Ao cabo dessa análise concluo que nunca foi tão apropriado o apelido de Patético ao Atlético, realmente uma vergonha nacional.

Uma pena porque a torcida do Galo é inigualável, embora, como todas as massas, descerebrada e manipulável.

Já o Cruzeiro é um clube ridículo, é o tudo que poderia ter sido e não foi, embora ache-se potência e teve até a audácia de se intitular "BARCELONA DAS AMÉRICAS".

Mas, novamente, como de praxe, deu vexame na Libertadores 2011 e agora resolveu seguir o Patético na caminhada do rebaixamento.

O descenso atleticano é quase certo, primeiro pelo péssimo futebol, segundo por que disputa uma vaga na Série A com o Cruzeiro, clube muito sortudo.

Logo, o rebaixamento do Cruzeiro é possível, porém improvável.

Enquanto os dirigentes mineiros não se atualizarem, a tendência é de mais vexames, pricipalmente por parte do Atlético, que agora tem um aplicado aluno celeste.

Enfim, dou-me por rebaixado, pois milagres não se repetem como o de 2010.

Resta esperar para saber se o clássico do rebaixamento, na última rodada, resultará na volta do Galo à Série B ou se em 2012 teremos uma Série B(H) com Atlético, Cruzeiro e América, em mais uma proeza do Cruzeiro, o Barcelona das Américas (só rindo).

*Ricardo Leite e Souza, 32 anos, é advogado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/