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Blog do Juca Kfouri

Valeu, Ronaldo! E só valeu por Ronaldo

Juca Kfouri

07/06/2011 23h51

Flávio Florindo/UOL

Quando o primeiro tempo terminou no gelado Pacaembu (30 mil pagantes), o 1 a 0, gol de Fred, aos 21 minutos, era muito pouco para o que a Seleção Brasileira mostrara contra a Romênia.

Neymar, duas vezes, Robinho uma e, pasme, Ronaldo, três vezes, tiveram chances para ampliar.

O esperado gol do Fenômeno não aconteceu porque o goleiro romeno impediu duas vezes e porque ele mesmo, ao mandar uma bola nas nuvens, fez questão de mostrar que estava aposentado.

Mas impressionou a facilidade com que Robinho uma vez e Neymar duas o acharam para lhe dar o gol.

Ao fim, em sua despedida nos microfones, ovacionado, ele se desculpou ao se dirigir aos torcedores,  "por não ter dado uma pequena retribuição a tudo que vocês me deram".

Não precisava. Ele deu muito mais do que recebeu.

A Seleção jogava bem, e poderia ter ido para o intervalo com 5, 6 a 0,  porque havia duas diferenças básicas em relação ao jogo de Goiânia.

Em vez do calor sufocante, um frio estimulante para jogadores em fim de temporada.

Em vez da Holanda, a segunda melhor seleção do mundo, a romena, a 42a.

Verdade que a presença de Jadson, num meio de campo com Sandro e Elias, dava a criatividade que não apareceu no Serra Dourada.

Mas se o primeiro tempo teve um inevitável clima de festa, o segundo era para ser de trabalho.

E a Seleção voltou com Nilmar no lugar de Ronaldo que tinha substituído Fred.

Voltou menos elétrica, mas continuou perdendo gols, pelo menos três em 20 minutos.

E errava passes irritantemente, apesar da gritante fragilidade do time romeno, pra lá de chegado numa trapalhada.

Lucas Leiva estava em campo porque Sandro se machucou, aos 15,  e Lucas, o menino do São Paulo, entrou no lugar de Robinho, vaiado, aos 21, quando a torcida em coro pedia Ronaldo…

Lucio saiu e entrou Luisão, mas a melhor troca deu-se aos 27, quando Marica deu lugar a Zicu, na Romênia — lembrando que os romenos são tão latinos como nós.

Aos 30, Thiago Neves que deveria ter entrado já no jogo contra a Holanda, enfim, aos 30, entrou no lugar de Neymar.

Aos 33, como o Serra Dourada, o Pacaembu começou a vaiar.

Aos 34, Thiago Neves, que não está aposentado, ao contrário, chutou mais nas nuvens do que Ronaldo, que voltou a ser convocado pela massa.

A Romênia trocava passes inutilmente e a torcida acompanhava dando olé.

Mais uma vez a torcida paulista ficava brava com a Seleção, embora, como pesquisou o PVC, desde 1964 o time esteja invicto na Paulicéia.

Enfim, a noite de 7 de junho de 2011 entra para a história como a do fim de uma era e que valeu para homenagear Ronaldo Fenômeno.

E só por isso, embora não seja pouco, muito ao contrário.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/