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Blog do Juca Kfouri

Para pensar antes de dormir.E bem acordado

Juca Kfouri

21/02/2011 12h00

Caro Juca,

Estava lendo no teu blog sobre o Clube dos 13 e sobre o futuro das cotas dos times com os novos acordos, quando me lembrei do que vi em um programa sobre política na TV nos EUA.

O comediante Bill Maher fez uma comparação interessante entre a MLB (Liga de Baseball) e a NFL (Liga de Futebol Americano).

Veja só, o comediante faz uma analogia interessante entre capitalismo e a MLB, e socialismo e a NFL.

Bill analisa que o sucesso da NFL, de longe o esporte mais rentável do mundo, tem muito a ver com a forma como o dinheiro é dividido.

Pois, no Futebol Americano a cota da TV, que é imensa, é dividida igualmente, eu disse IGUALMENTE, entre os 32 times.

Já na MLB, cada time cuida da sua própria negociação e dos seus patrocínios.

É por isso que quando a temporada de Baseball começa, só uns 3 ou 4 times têm chances reais de serem campeões, e são sempre representantes de cidades ricas.

Enquanto que na NFL, até os times das cidades menores têm chances de chegar às finais.

Eu sei que o texto é longo, mas vale a pena ler o que ele argumenta. Segue a transcrição traduzida por mim, Fabrício Azevedo:

"Com o Superbowl, os americanos precisam perceber o que faz o futebol da NFL tão bom – SOCIALISMO.

Isso mesmo, a NFL tira o dinheiro dos times ricos e distribui para os mais pobres, exatamente como o Presidente OBAMA quis fazer com seu exército secreto de voluntários da ACORN (uma associação que ajuda pessoas carentes nos centros urbanos que os republicanos conseguiram destruir).

Green Bay, em Wisconsin, tem uma população de 100.000.

Porém essa pequena cidade pacata, as margens do rio sei-lá-o-nome teve a mesma chance de chegar ao Superbowl do que o New York Jets, que no próximo ano precisam só se calar e jogar (eles fizeram muitas provocações pela mídia e perderam).

Eu, pessoalmente, não assisto ao Superbowl desde 2004, quando o mamilo da Janet Jackson ficou à mostra e aquela fração de segundo de um peito negro à mostra queimou meus olhos e me ofendeu como um cristão (ele é ateu).

Mas eu entendo, quem não gosta do espetáculo onde milionários "bombados" causam traumas cerebrais uns aos outros em uma tela Flat Screen gigante, com uma imagem tão real que parece que o Ben Roethlisberger (quarterback dos Steelers) está na sua sala, agarrando a sua irmã.

Então não é surpresa que 100 milhões de americanos vejam Superbowl, o que é 40 milhões a mais do que os que vão a Igreja no Natal – e chupa Jesus!

Também é 85 milhões a mais do que os que assistiram á final da World Series (finais de baseball).

E ai está uma lição de economia para a América, porque o futebol é construído sob um modelo de igualdade e justiça e o baseball é construído sobre um modelo onde os ricos sempre ganham e os mais pobres geralmente não tem chance.

A World Series é como o programa Real Housewives of Beverly Hills (reality show com esposas de milionários): você tem que ser uma vaca rica só pra poder participar, enquanto que futebol é como Tila Tequila (uma celebridade "fácil"), qualquer um pode entrar.

Ou pra colocar de outra forma: Futebol é como a filosofia dos Democratas; eles não querem eliminar capitalismo ou competição, mas eles não aceitam quando algumas crianças têm que ir para escolas podres e sem estrutura, enquanto que os filhos dos ricos freqüentam escolas excelentes e seus pais os mandam pra Harvard.

Porque quando isso acontece, atingir o "American Dream" é fácil para uns e só uma fantasia para outros.

É por isso que a NFL, literalmente, divide a riqueza.

A cota da TV é a principal fonte de receita deles, e eles pegam todo esse dinheiro e colocam em grande pote "comunista" e dividem igualmente em 32 partes, pois eles não querem que ninguém fique pra trás.

É por isso que o time que ganha o Superbowl é o último a escolher novos jogadores pra próxima temporada, ou o que os Republicanos chamariam de "punir o sucesso".

Já o baseball é exatamente como os Republicanos, e eu não quero dizer extremamente entediante, eu quero dizer que a teoria econômica deles é exatamente a mesma, ou seja, cada um que cuide de si.

Por exemplo, o time de um mercado pequeno como o Pittsburgh Steelers vai ao Superbowl mais do que os outros.

Já o Pittsburgh Pirates (time de Baseball)…. de Levi Jonhtson (jovem genro da Sarah Palin) tem esperma que viverá mais tempo do que o que levará para os Pirates chegarem a World Series.

A folha de pagamento deles é de 40 milhões enquanto que a dos Yankees de Nova York é 206 milhões.

Os Pirates têm a mesma chance de chegarem às finais de Baseball do que um pobre garoto negro de Newark tem de se tornar CEO da Halliburton.

É por isso que as pessoas deixam de ir aos jogos dos Pirates em Maio, porque se você não tem chance no jogo, você perde o interesse no jogo e se torna amargo com relação ao jogo. E é isso que está acontecendo com a classe média nos EUA.

Então você tem que rir porque os mesmos brancos raivosos que odeiam Obama porque ele redistribui a riqueza são os mesmos que amam futebol, um esporte que é bem sucedido exatamente por fazê-lo.

Para eles, a NFL é tão americana como cachorro-quente, Chevrolet, torta de maçã e uma torta de maçã gigante.

Eles acham que são machões porque o esporte deles é futebol, quando honestamente, existe algo mais gay do que usar a camisa de outro homem?

Aqui está o link para o vídeo original.

E ai, o que você acha?

Será que conseguiremos um dia mudar a mentalidade do futebol brasileiro? Será que algum dia a cota será dividida igualmente entre os 20 times?

Um abraço.

Nota do Blog: Vale pensar, também, sobre esta notícia, no momento em que futebol e TV estão na ordem do dia no Brasil.

Será que ainda vivemos na Idade da Pedra por aqui?

Fifa perde batalha para bloquear transmissão gratuita na TV

por ESPN.com.br com Agência Reuters

A Fifa, entidade que comanda o futebol mundial, perdeu uma batalha jurídica nesta quinta-feira contra uma decisão da Comissão Européia que garante a transmissão gratuita pela TV dos principais eventos esportivos na Grã-Bretanha e na Bélgica. Os eventos são altamente lucrativos para a Fifa.

O Tribunal Geral, o segundo tribunal de maior autoridade na União Européia, também rejeitou um pedido semelhante da entidade que dirige o futebol europeu, a Uefa, contra uma decisão de autoridades britânicas de permitir que emissoras transmitam as finais dos campeonatos europeus gratuitamente na TV aberta.

"Um Estado-membro pode, em certas circunstâncias, proibir a transmissão exclusiva de todos os jogos da Copa do Mundo ou da Eurocopa na televisão paga, para permitir que o público em geral possa acompanhar esses eventos na televisão aberta", disse o tribunal.

Sob a diretriz da UE, os países-membro podem elaborar uma lista de eventos de interesse nacional que serão exibidos nos canais abertos, mesmo se os direitos de exclusividade já foram vendidos às emissoras de TV pagas.

Tais eventos incluem os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de futebol, os campeonatos europeus, o Campeonato Europeu de futebol e o torneio de tênis em Wimbledon.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/