Edson e Manuel
Por ROBERTO VIEIRA
Hoje, Garrincha completaria 77 anos.
Garrincha que faz anos cinco dias depois do Pelé.
A coincidência das datas induz uma reflexão.
Porque Garrincha é visto como inocente e bonachão fora dos campos?
Enquanto Pelé é cobrado em cada esquina a cada escorregão?
Qual a diferença entre o Edson e o Manuel?
Edson se recusou a reconhecer uma filha.
Parte da torcida o vaia até hoje.
Longe do texto elogiar a conduta.
Mas Garrincha abandonou uma penca de filhos.
No Brasil, na Suécia, sabe-se lá onde mais.
Mesmo assim, o ato de Edson é sempre lembrado.
E o de Garrincha é folclorizado.
Como o de um bom selvagem.
Em outros campos, Edson foi exemplo de atleta.
Não bebia, não fumava, treinava mais que todo mundo.
Enquanto Manuel era o avesso do avesso do avesso.
Edson que jogou tão machucado quanto Manuel.
Ambos esquartejados.
Porém, a imagem do Rei saindo em frangalhos na Copa da Inglaterra.
Depois de lutar com uma perna só diante dos portugueses.
É menos lembrada que a clavícula do Kaiser.
Menos glamourizada que os joelhos do Manuel.
Não se trata aqui de juízo de valores.
Pelé e Garrincha são fenomenais, craques, gênios.
Edson e Manuel são humanos, falíveis, marias-madalenas.
Entretanto.
Talvez o motivo da percepção distinta entre Edson e Manuel.
Seja outro.
Menos inocente – e mais ligado ao preconceito de classes e de cor.
Edson, menino pobre e faminto, negro e inculto.
Seria idolatrado se morresse pobre e entorpecido.
Como devem morrer os negros neste país.
Como morreu Garrincha.
Mulato inzoneiro alcoolizado e falido.
Semideus de um país que aplaude os seus ídolos do povo.
Principalmente quando morrem miseráveis e esquecidos…
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/