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Blog do Juca Kfouri

CBF paga R$ 3 milhões por sonegação

juca kfouri

29/08/2010 10h55

Por FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

A CBF foi autuada pela Receita Federal e pagou R$ 3 milhões ao fisco (incluindo multa, juros e impostos devidos) por sonegação de Imposto de Renda.

A entidade foi acusada de usar verbas para bancar jornalistas, juízes e advogados (grifo do blog) e abater essas despesas no pagamento do imposto.

A dívida se arrastou de 2002 a 2009, quando a CBF pagou a multa para não ser inscrita na Dívida Ativa da União e levar o caso a público.

O processo foi mantido em segredo uma vez que, na esfera administrativa, qualquer autuação da Receita Federal é sigilosa.

Foram ao menos duas derrotas no Ministério da Fazenda antes de a dívida ser paga.

E o débito da CBF com a Receita pode ser ainda maior.

Levantamento feito pela Folha mostra que a confederação aparece como parte em 103 processos abertos no Ministério da Fazenda desde 2003.

Só neste ano a confederação vai faturar mais de R$ 200 milhões com seus patrocinadores.

A acusação contra a CBF surgiu em 2002, quando a entidade foi alvo de investigação da Receita.

Segundo o auto de infração, a CBF bancou viagens, com direito a hotel, para "jornalistas, membros do Judiciário, familiares de dirigentes e outros não envolvidos nas atividades da CBF".

Na prática, a entidade declarou que essas despesas eram "essenciais" e "incorridos no intuito de realizar seu objeto social".

Por isso, a entidade usou os valores para deduzir do Imposto de Renda.

"A exposição pública e divulgação geram patrocínios e nada mais natural do que proporcionar passagens e hospedagem a pessoas relacionadas com esses contratos", justificou a CBF no processo da Receita Federal.

O expediente não só foi recusado pelo fisco como também resultou em multa de 75% do valor do imposto devido.

No total, a dívida foi calculada em R$ 1,19 milhão _ou R$ 3 milhões em valores de 2009, quando foi paga.

"Tais despesas foram consideradas como feitas por mera liberalidade pela entidade e, portanto, como não dedutíveis", diz o relatório da Receita.

O mesmo artifício para sonegar imposto, segundo a Receita, foi utilizado com escritórios de advocacia.

A entidade fez pagamentos com "valores superiores aos acordados nos contratos" e tentou utilizar o montante para abater do imposto. Além disso, a CBF, de acordo com a investigação, não provou que o serviço foi prestado.

As irregularidades foram encontradas inclusive nos serviços que foram comprovadamente realizados.

Entre eles, a contratação de advogados para acompanhar inquérito policial de interesse de Ricardo Teixeira, presidente da CBF.

"Os serviços só podem ser entendidos como prestados às pessoas físicas e nunca à pessoa jurídica da CBF", diz o relatório da Receita. (grifo do blog, outra vez).

Em 2001, mesma época das irregularidades apuradas pela Receita, a entidade sofreu uma devassa da CPI da CBF na Câmara dos Deputados.

O relatório final pediu 13 indiciamentos de Teixeira por crimes fiscais.

Além de comandar a CBF, Teixeira é o presidente do Comitê Local da Copa-2014, que avalia os estádios brasileiros orçados em mais de R$ 5 bilhões.

O governo pretende ainda dar isenções fiscais de R$ 900 milhões para os parceiros da Fifa e do comitê organizador do Mundial.(grifo do blog, pela última vez).

OUTRO LADO

Por meio de assessoria, a CBF informou que não comentaria a multa da Receita.

No recurso apresentado no Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, que negou as alegações da CBF, a entidade diz que os gastos foram usados para abater o Imposto de Renda porque eram "essenciais".

Sobre o pagamento de viagens para jornalistas, a entidade afirmou que as passagens foram pagas para garantir divulgação.

A confederação também questionou a tributação de gastos com advogados.
"O simples fato de não haver aditivo escrito não é razão para se glosar [tributar] a despesa."

A maior parte da dívida de R$ 3 milhões, em valores de 2009, deve-se à cobrança de juros e multa de 75%.

No processo, a CBF afirmou que a Selic, taxa básica de juros, era ilegal e a multa "confiscatória"

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/