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Blog do Juca Kfouri

Desastre e injustiça no Nelson Mandela Bay

juca kfouri

02/07/2010 12h50

Quando o primeiro tempo terminou no quente estádio Nelson Mandela Bay os holandeses devem ter agradecido aos céus por estar só 1 a 0, em belo gol de Robinho, aos 10, ao receber um passe de Felipe Melo que Gérson, o Canhotinha de Ouro da Copa de 1970, assinaria com gosto.

Porque a Seleção Brasileira chegou a ter momentos simplesmente espetaculares nos primeiros 45 minutos, a exemplo, aliás, do que Dunga havia previsto, ao falar em futebol bem jogado nas partidas contra os holandeses.

Antes do gol mesmo, em bela trama, Daniel Alves estava impedido, razão pela qual o gol brasileiro de Robinho foi bem anulado.

Mas depois do gol, não só Kaká sofreu pênalti cometido por De Jong, aos 8, como o mesmo Kaká, aos 30, complementando uma linda triangulação levou o goleiro Stekelenburg a fazer excelente defesa.

Kaká disputou a primeira metade do jogo intensamente e só apanhou menos que Luís Fabiano, que mais pareceu um boi de piranha que um centroavante, missão que cumpriu com valentia.

O pé esquerdo de Robben era marcado impiedosamente, ora por um, ora por outro, ora por mais um defensor brasileiro, de maneira exemplar.

Mais uma vez, enfim, o time brasileiro contra cachorro grande mostrava ser maior, coisa que virou hábito na gestão Dunga, certamente porque para tentar jogar permite-se que o Brasil jogue.

No último minuto, depois que Juan mandou por cima o que poderia ter sido o segundo gol, Maicon ia ampliando num lance que lembrou o famos quarto gol de Carlos Alberto  Torres no fecho da Copa de 70, segunda referência aqui a um momento mágico do futebol, porque a seleção canarinho assim fez por merecer.

Aliás, neste lance, o goleiro desviou para escanteio e a fraca arbitragem japonesa não viu.

E Robben, ainda foi pego como falso malandro por Daniel Alves, em seu melhor momento porque não estava bem, ao querer enganar os brasileiros numa cobrança de escanteio.

E o Brasil ainda teve 53% de posse de bola.

E o segundo tempo veio.

Logo aos 8, injustiça pelo ar.

Sneijder cruzou na área, Júlio César saiu em falso e Felipe Melo desviou para dentro do gol.

A isso, em futebol, se dá um nome: Brasil x Holanda, jogo de cachorro de grande. Ficaria maior?

Prudente, porque virou guerra, Dunga tirou Michel Bastos, com amarelo, e botou Gilberto em campo, aos 16.

A superioridade brasileira virou equilíbrio.

Tudo poderia acontecer.

E aconteceu!

Na cabeça de Sneijder, aos 22, em cobrança de escanteio por Robben: 2 a 1.

Era hora de reação, pois pela primeira vez a Seleção estava em desvantagem na África do Sul.

A exemplo das Copas de 1986 e 1990, quando o Brasil foi eliminado, pela Argentina e pela França, em suas melhores apresentações, a Holanda despachava os pentacampeões mundiais.

Mas havia tempo se houvesse cabeça, coisa que Felipe Melo, sabidamente não tem.

E depois de pisar Robben, o brasileiro foi bem expulso aos 28.

Se lembrou Gérson em 70, lembrou a expulsão de Luís Pereira em 74 também.

Ficou praticamente impossível.

Robben enlouqueceu o time nacional.

A maioria holandesa fazia a festa no Nelson Mandela Bay e Dunga trocava Luís Fabiano por Nilmar, uma tentativa correta de trocar a força de um pela habilidade de outro num momento de inferioridade técnica e numérica.

A Holanda estava sempre mais perto do terceiro gol do que o Brasil do segundo.

Notas:

Júlio César falhou no primeiro gol: 5;

Maicon fez o que pôde: 6,5;

Lúcio e Juan, dois gols por cima: 5;

Michel Bastos saiu-se melhor do que a encomenda: 6,5;

Gilberto Silva trabalhador como sempre: 6;

Felipe Melo, do céu ao inferno: 4;

Daniel Alves, a maior decepção da Copa: 4

Kaká, muito bem no primeiro tempo, caiu no segundo: 6,5;

Robinho, exatamente como Kaká, talvez um pouco acima: 7;

Luís Fabiano, um leão sem dentes: 6;

Nilmar, nada pôde fazer: 5

Gilberto entrou para cumprir uma missão e cumpriu: 5;

Dunga não merecia a derrota num jogo como o de hoje e, como na Olimpíada de Pequim, não conseguiu o que queria, embora tenha brilhado depois em tudo que disputou. Uma pena: 6

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/