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Blog do Juca Kfouri

Jennings continua. Na 'Carta Capital'

juca kfouri

28/06/2010 11h20

Por PAOLO MANSO

Andrews Jennings não é um jornalista esportivo, e sim um repórter investigativo.

Um dos melhores da Inglaterra, isso é testemunhado por décadas de colaboração com os principais jornais britânicos e a BBC.

Mas principalmente é o pesadelo de Sepp Blatter e da FIFA, aos quais dedicou um livro, "Foul ! The Secret World of FIFA: Bribes, Vote-rigging and Ticket Scandals (em livre tradução, Falta ! Subornos, Compra de Votos e Escândalos com Ingressos), publicado em 2006.

Por que o senhor é o único jornalista do mundo com acesso proibido nas entrevistas à imprensa com Blatter ?

Porque há anos procuro em vão ter respostas do chefe da FIFA sobre corrupção e propinas, baseado em muitos documentos "confidenciais".

Com muita probabilidade cansou-se de não responder e preferiu condenar-me ao ostracismo, o que de certa forma me deixa orgulhoso.

Quer dizer que mister Blatter tem medo das minhas perguntas.

Em quanto importa, segundo seu parecer, a quantia das propinas pagas pela FIFA nos últimos 20 anos ?

Segundo estimativa do Tribunal de Zug, na Suíça, o valor, limitado apenas aos anos 90, é estimado em aproximadamente 100 milhões de dólares.

Todo esse dinheiro acabou nos bolsos dos funcionários esportivos que estavam sob contrato, quase todos eles com a FIFA.

Quando o senhor começou a recolher as primeiras provas de corrupção?

Trabalhei durante anos sobre o tema corrupção na FIFA, juntamente com um colega alemão. As nossas suspeitas eram fortíssimas, mas não tínhamos provas porque a ISL, a sociedade que geria antes o marketing e em seguida os direitos de tevê da FIFA, era uma companhia fechada.

Impossível receber informações transparentes sobre suas operações de balanço.

Todavia, quando faliu de forma fraudulenta, seus livros contábeis foram colocados à disposição dos curadores falimentares, bem como dos tribunais.

E foi justamente nos tribunais que tivemos a confirmação, com provas, daquilo que suspeitávamos, mesmo se a realidade superava nossa imaginação.

A corrupção na FIFA como e quando começou ?

Em 1976, o então presidente da entidade, o britânico Sir Stanley Rous, foi deposto.

Ninguém podia corromper Stanley.

Em seu lugar entrou o brasileiro João Havelange, que era muito corrupto.

Foi ele que inaugurou o "sistema", recebendo propinas via ISL.

Sua afirmação é grave. Ela se baseia em que ?

Em testemunhos que recolhi de ex-integrantes da FIFA, altos dirigentes.

E em documentos.

Havelange chega e traz Ricardo Teixeira. Com qual resultado ?

Um "boom" de corrupção !

A imprensa suíça escreveu que Havelange e Teixeira embolsaram a maior parte das propinas.

No decorrer da transmissão do programa Panorama, da BBC, perguntei em três ocasiões a Sepp Blatter o que ele sabia sobre as propinas embolsadas por Havelange e ele sempre ficou calado. Pedi também informações de uma específica propina, mas também neste caso Blatter fez cena muda.

De qual propina se tratava ?

De 1 milhão de francos suíços  que deveriam acabar nos bolsos de Havelange.

Por um erro foram depositados numa conta da FIFA, provocando o pânico entre os dirigentes honestos da organização. Posso garantir que havia três pessoas numa sala da FIFA quando chegou aquele pagamento: Sepp Blatter e outros dois dirigentes.

Falei com este que me confirmaram que o destinatário da propina era Havelange.

Um dos dois entregou uma declaração oficial e assinada aos advogados da BBC, na qual afirmava que, em caso de processo por parte da FIFA contra mim e a BBC, ele compareceria no Tribunal para confirmar que o pagamento era para Havelange.

O mesmo, porém, pediu para não ser citado na reportagem que foi divulgada pela BBC, e que qualquer um pode apreciar na internet.

O pagamento teria sido por quem ?

Pela ISL, no início de 1998.

E o que há em relação a Teixeira ?

Bastaria olhar os documentos da acusação criminal depositados à margem do processo de Zug.

Em relação aos depósitos feitos pela ISL, há um para a RENFORD INVESTIMENT LTD., sociedade controlada por Havelange e Teixeira.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/