A Copa Mercosul
Por ROBERTO VIEIRA
Quem diria?
A Copa do Mundo virou Copa do Mercosul.
Mercosul de veias abertas e futebol sem fronteiras.
Mercosul de Neruda, Galeano, Drummond e Borges.
Mercosul de Toro, Schiaffino, Pelé e Maradona.
Mercosul primeiro mundo no futebol.
Pois a miséria ainda habita seus grotões.
Pode ser que as semifinais não confirmem a nova geografia.
E daí?
Uma terra esquecida do mundo.
Lembrada apenas pela cana, por Potosí, pelo couro e pela subserviência.
Continua surpreendendo no maior espetáculo da Terra.
E por quê?
Antes que os arautos de uma nova ordem proclamem nossa grandeza.
Lembremos que os jogadores de futebol são pobres meninos de rua.
Com raras exceções.
Meninos que sonham tirar suas famílias da linha de pobreza.
Meninos que sonham com o trono em Madrid, Londres ou Paris.
Embora Moscou e Atenas também sirvam.
O futebol é território dos que nascem nos mocambos e vilas miseráveis.
Os garotos alemães e ingleses preferem outros brinquedos.
Os garotos suecos e dinamarqueses estudam de manhã e à tarde.
Antes de se proclamar que o Mercosul é bom de bola.
Entendam que o Mercosul é ruim de garfo e de vacina.
No dia em que o Mercosul for rico.
A Copa do Mundo muda de endereço.
Para tristeza de quem sonha com o Hexa.
E alegria de quem sonha simplesmente com justiça…
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/