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Blog do Juca Kfouri

0 a 0 lutado e vaiado

juca kfouri

25/06/2010 12h52

Com 10 minutos só se ouve a torcida brasileira no estádio, hoje bem mais quente, talvez contagiada pelo calor em Durban.

Mas, também, pudera: a Seleção Brasileira tinha absoluto domínio do jogo.

E já tem coro chamando Cristiano Ronaldo de viado. Coisas nossas.

A primeira pontada lusa demorou 14 minutos e no minuto seguinte, por uma segunda entrada violenta em Pepe, Luís Fabiano levou um  cartão amarelo bobo.

E Coentrão é quem mais bota fogo no jogo.

Por quatro vezes já Daniel Alves teve bolas importantes no pé e não se saiu bem. O que há com ele, que já não entrou bem contra Costa do Marfim?

Lúcio e Juan parecem ter combinado de deixar Cristiano Ronaldo de castigo e não deixam pegar na bola.

Entre Júlio Baptista, Nilmar e Daniel Alves, o primeiro é quem está melhor.

Juan mete a mão na bola para cortar um contra-ataque e leva o amarelo. Por querer que fosse o vermelho e reclamar, Duda também é amarelado.

Cristiano Ronaldo bate a falta para alto mar.

Os brasileiros têm mais a bola, nada menos do que em 64% do tempo.

Fazer o que com ela é a questão.

O jogo não é de mãe para filho, de pai para filho ou entre irmãos.

É pau puro mesmo e os brasileiros batem mais.

Aos 29, Luís Fabiano acha Nilmar que, meio sem ângulo, chuta, e o goleiro Eduardo espalma  na trave. Um pecado!

No contra-ataque, Tiago simula um pênalti e leva o amarelo.

Júlio Baptista erra um passe fácil e Cristiano Ronaldo só não vai parar no gol porque estava impedido.

E Felipe Melo é quem melhor arma no meio de campo brasileiro.

Júlio Baptista dá um chutão numa dividida e Luís Fabiano quase aproveita.

Se sai gol, segurem o Dunga!

Em, compensação, Nilmar dá lindo chapéu em Bruno Alves (nenhum parentesco com Daniel), mas erra a conclusão. Se acerta…

Trombada lusa entre os Ricardos Carvalho e Costa, aos 38, faz o estádio dar risada.

Maicon vai à linha de fundo e cruza na cabeça de Luís Fabiano, que cabeceia certo, no chão, e bola raspa a trave.

Já era para o Brasil estar na frente.

Agora, aos 42, é a vez de Felipe Melo abrir a caixa de ferramentas, desnecessariamente, e levar o seu cartãozinho.

Parece que todo mundo aposta na zerada dos cartões nas quartas-de-final.

Só que antes tem as oitavas…

E como Dunga de bobo nada tem, tira Felipe e põe Josué.

O primeiro tempo acaba com sete (4 a 3 para os lusos) cartões amarelos.

Como se os portugueses quisessem vingar os recentes 6 a 2 no amistoso de Brasília.

E como se os brasileiros, no pau e na bola, quisessem vingar a derrota de 3 a 1 na Copa de 1966, na Inglaterra, quando Pelé foi caçado em campo e o Brasil eliminado na primeira fase.

Mas ninguém nem tinha nascido, então.

Apesar disso, permanecendo o empate, Brasil e Portugal não terão de mexer em seus planos, na logística planejada para as oitavas.

Sim, é claro que o Brasil planejou terminar em primeiro lugar no seu grupo.

Sim, e é claro, também, que Portugal se planejou para ser o segundo.

Por falar em segundo, o primeiro lance agudo do segundo tempo acontece com Cristiano Ronaldo, desarmado por Lúcio na linha de fundo.

Gilberto Silva não se cansa de errar passes fáceis.

E a Seleção não recomeça bem o jogo.

A arte do passe está quase tão esquecida como a arte do drible.

Coentrão, por exemplo, deu um com açúcar, mas para Nilmar que, no entanto, foi facilmente desarmado.

A bola só chegou ao gol luso aos 12 minutos, numa cabeçada fraca de Luís Fabiano.

Aos 15, Gilberto Silva errou mais um passe e armou o contra-ataque luso, com Cristiano Ronaldo que, desta vez, deixou Juan para trás, foi desarmado na hora agá por Lúcio que, no entanto, deu a bola para Raul Meireles que desperdiçou na dividida com Júlio César, na melhor chance de gol do jogo. Um sustaço!

Portugal, agora, joga melhor.

Carlos Queiroz dá sinais de desconsolo e Dunada de impaciência nos bancos.

E Cristiano Ronaldo, fominha como ele só, segue errando nas cobranças de faltas.

O jogo adormece.

Lúcio tenta acordá-lo, indo à frente. Em vão.

O 0 a 0 previsível num jogo de compadres não está estampado no placar por compadrio, em verdade, mas por incompetência.

Diante disso só resta aos torcedores, mais de 62 mil, fazer olas.

Olas e vuvuzelas. É mole?

Aos 31, Cristiano Ronaldo tem sua primeira chance real de marcar, mas fica nisso.

Jorginho diz a Dunga que o time tem de tocar a bola.

Dunga bronqueia, porque o time tenta, mas erra muito.

O jogo hiberna em meio a um barulhão ensurdecedor.

O Brasil, ao menos, deixa de correr riscos e, aos 42, conseguiu seu primeiro escanteio no segundo tempo.

Com 69% de posse de bola brasileira, o 0 a 0 é o resultado final.

Menos mal: o Brasil sempre que foi campeão o fez de maneira invicta.

Mas o lindo estádio de Durban merecia mais. Bem mais.

E vaia.

Notas:

Júlio César foi sempre bem, como sempre: 8;

Maicon hoje teve de ficar: 6;

Lúcio não errou uma: 8

Juan perdeu duas e levou um cartão: 5,5

Michel Bastos foi de pouca utilidade: 5

Gilberto Silva abusou: 4,5;

Felipe Melo era o melhor quando perdeu a cabeça: 6;

Júlio Baptista começou bem e caiu com o time: 6

Daniel Alves decepcionou quem apostava que ganharia a posição: 5,5;

Nilmar também deveu: 5,5;

Luís Fabiano sem luz: 5,5

Josué foi burocrático e não melhorou o passe: 5,5;

Ramires e Grafite sem tempo e nota.

Dunga não tem do que se queixar  pois teve seu objetivo atingido: 6.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/