Para salvar a Fonte Nova
POSICIONAMENTO DAS ENTIDADES CONTRA A DEMOLIÇÃO TOTAL
E PELA REQUALIFICAÇÃO
DO COMPLEXO ESPORTIVO DA FONTE NOVA
As Entidades abaixo assinadas manifestam-se, publicamente, contrárias à proposta de
demolição integral do Complexo Esportivo da Fonte Nova, em favor de sua
requalificação em função dos aspectos culturais, ligados ao seu valor arquitetônico, à
sua integração paisagística com o conjunto tombado nacionalmente do Dique do
Tororó, pelas razões a seguir expostas:
1 – A estrutura principal (os 88 pórticos do anel superior, toda a estrutura do anel
inferior e as respectivas fundações) atualmente existente do estádio é perfeitamente
aproveitável, como afirmou o especialista em estruturas Engenheiro Civil João Leite no
1º Debate da Copa 2014, realizado no CREA-BA em 2009. A execução de novas
fundações terá um alto custo, visto que a Fonte Nova está apoiada, em boa parte, em
área embrejada. Até a presente data, apesar da solicitação do CREA-BA, a empresa
responsável pelo projeto não apresentou laudo técnico, com a respectiva Anotação de
responsabilidade Técnica (ART) comprovando a necessidade da demolição da
estrutura vertical (pilares).
2 – Não cabe a eliminação sumária de um complexo olímpico e substituí-lo por uma
arena de futebol justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar, pela
primeira vez, os Jogos Olímpicos, especialmente se considerarmos a possibilidade de
Salvador servir de subsede para algumas modalidades dos Jogos;
3 – Até o momento não está claro como se dará a demolição e a posterior retirada das
milhares de toneladas de escombros resultantes da demolição proposta, considerando
a localização central do Complexo Esportivo e seu entorno constituído de imóveis
tombados. Tampouco está claro qual o destino que será dado a este entulho, cujo
impacto ambiental sequer foi dimensionado;
4 – Ao contrário do que vem sendo divulgado, não é exigência da FIFA a retirada da
pista de atletismo, o que levaria a modificar a seção das arquibancadas e acarretaria a
necessidade de demolição total. Se tal fato fosse verdadeiro, o Estádio Olímpico de
Berlim, reformado para atender às normas da FIFA na Copa de 2006, não preservaria
até hoje sua pista de atletismo;
5 – Também ao contrário do que vem sendo divulgado, não é exigência da FIFA, mas
sim uma recomendação, a cobertura total das arquibancadas. Entretanto, é desejável
atendê-la numa cidade com muito sol e dois mil milímetros de precipitações anuais, o
que poderá ser executado na atual estrutura com soluções técnicas mais econômicas e
sustentáveis;
6 – Estas e outras questões já foram apresentadas aos gestores públicos (no caso, a
Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia), durante o
período destinado à consulta pública, pelo CREA-BA e outras entidades, e nenhuma
delas foram atendidas.
Diante do exposto, defendemos que o Governo do Estado da Bahia deve optar pela
preservação do Complexo Esportivo da Fonte Nova e pela sua adaptação às
exigências da FIFA, pois a manutenção da estrutura representará uma redução
significativa do prazo de execução e uma economia de mais de duzentos milhões de
reais. Neste sentido, as Entidades signatárias do presente apresentam as seguintes
propostas:
1. Suspender os trabalhos de demolição e iniciar os preparativos para uma
reformulação da intervenção. Para tanto, pode-se negociar com as empresas
contratadas para a retomada das obras após a elaboração de novo projeto, que deverá
ser mais econômico e mais respeitoso com o meio ambiente, a cultura e a memória da
cidade. O tempo investido na adequação do projeto será amplamente compensado
com a redução do prazo de execução da obra em geral.
2. Recuperar as estruturas físicas do complexo olímpico como um todo. Sabe-se
que a sua estrutura principal, que é o estádio existente, é perfeitamente recuperável e
reaproveitável a baixo custo. A geometria das arquibancadas permite perfeita
visibilidade do terreno de jogo e este poderá ser rebaixado ou elevado sem grandes
custos, conforme tem sido afirmado reiteradamente por vários profissionais durante
eventos públicos, a exemplo do seminário feito no CREA-BA para subsidiar a consulta
pública em setembro de 2009.
3. Reabilitar todas as suas funções de equipamento multiuso do complexo
olímpico. Único complexo existente no Estado para servir a uma gama maior de
modalidades esportivas, cumprindo melhor a função social dos recursos públicos
investidos, justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar as
Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e devemos ter uma demanda ampliada por
instalações para a formação de atletas.
4. Respeitar o tombamento determinado pelo Processo 464-T-1952, item 9º. da ata
de tombamento do Conselho Nacional do IPHAN de 12.05.1959. Que tombou 9
conjuntos arquitetônicos e urbanísticos da cidade de Salvador e entre estes o "Dique,
com os limites atuais de suas águas, compreendendo os conjuntos urbanísticos e
florestais dos vales que o circundam". Em 1959 já estava construída a Vila Olímpica
da Bahia na Fonte Nova desde 1952 e esta se encontra dentro dos limites do BEM
TOMBADO e passa assim a integrá-lo.
5. Rever o calendário com a CBF e a FIFA: em função da mudança de cronograma,
considerando que os prazos serão compensados, visto que haveria redução com a
onerosa e demorada etapa de demolição e, do que é mais importante, do prazo geral
de execução.
Reconhece-se que implementar as propostas aqui elencadas não se constitui em tarefa
fácil, por exigir uma profunda mudança de rumo. Porém ainda há tempo e, certamente,
a população baiana saberá reconhecer esse gesto do Governo do Estado em favor do
cuidado com a coisa pública, especialmente avaliando o quanto do orçamento do
Estado se vai comprometer para esta e para as gestões futuras e sobretudo o quanto
de retorno social será garantido pelos recursos aplicados.
Salvador, 11 de maio de 2010.
ABENC – Associação Brasileira ; ANEAC; IAB/BA; CREA-BA, CEB; Fórum A Cidade Também é Nossa; IBAPE; Movimento Vozes de Salvador, SENGE; SINARQ; GAMBÁ; UMP/BA; FABS –
Federação das Associações de Bairros de Salvador; FAMEB – Federação das Associações de
Moradores do Estado da Bahia; CONAM – Confederação Nacional das Associações de
Moradores. GERMEM – Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental; Faculdade de
Arquitetura da UFBA; Escola Politécnica da UFBA.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/