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Blog do Juca Kfouri

Para o Conselho do Galo pensar antes de dormir

Juca Kfouri

16/06/2009 19h19

ANÁLISE DA PROPOSTA DE PRORROGAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO DO SHOPPING DIAMOND MALL

Por HENRIQUE CAMPOS

Este trabalho visa analisar em números a proposta de prorrogação do contrato de arrendamento do Shopping Diamond Mall.

Para isso foram projetadas, em valores presentes, por período, as rendas às quais o Clube Atlético Mineiro tem direito, pelo contrato atual e pelo possível novo contrato.

De acordo com o contrato atual, o Clube Atlético Mineiro recebe mensalmente uma renda de R$ 356.445,67 ou 15% do faturamento do Shopping, o que for maior. O novo contrato propõe uma renda mensal de R$ 450.000,00 ou 15% do faturamento do Shopping, o que for maior.

Para o efeito de análise, desconsideramos o valor de 15% do faturamento e assumimos como contrato atual R$ 356.445,67 e como contrato proposto R$ 450.000,00. Isso por que os 15% não são conhecidos, mas são iguais nos dois contratos. Por exemplo, se o Shopping faturasse R$ 1.000.000,00 mensais, 15% disso equivalem a R$ 150.000,00, porém, pelo contrato atual, o Atlético recebe R$ 356.445,67 enquanto pelo contrato proposto o Clube receberia R$ 450.000,00. Por outro lado, se o Shopping faturasse R$ 10.000.000,00 mensais, o Galo receberia R$ 1.500.000,00 por mês (15%), tanto no contrato atual como no novo contrato proposto. Portanto, quanto maior o faturamento do Shopping, mais vantajoso é o contrato atual em relação ao novo contrato proposto.

De qualquer forma, a análise do contrato atual e do contrato proposto foram analisados utilizando-se de critérios iguais e compatíveis com o que foi apresentado pelo Clube.

As projeções são apresentadas na tabela abaixo e comentadas em seguida.

PERIODO

 

CONTRATO ATUAL

CONTRATO PROPOSTO

DIFERENCA

 

MENSAL

356.445,67

1.000.000,00

643.554,33

2009 – 2012

ANUAL

4.277.348,04

12.000.000,00

7.722.651,96

 

SUB-TOTAL

12.832.044,12

36.000.000,00

23.167.955,88

 

MENSAL

356.445,67

450.000,00

93.554,33

2013 – 2027

ANUAL

4.277.348,04

5.400.000,00

1.122.651,96

 

SUB-TOTAL

59.882.872,56

75.600.000,00

15.717.127,44

 

MENSAL

2.376.304,47

450.000,00

-1.926.304,47

2027 – 2041 (cenário 1)

ANUAL

28.515.653,60

5.400.000,00

-23.115.653,60

 

SUB-TOTAL

427.734.804,00

81.000.000,00

-346.734.804,00

TOTAL (cenário 1)

 

500.449.720,68

192.600.000,00

-307.849.720,68

 

MENSAL

3.000.000,00

450.000,00

-2.550.000,00

2027 – 2041 (cenário 2)

ANUAL

36.000.000,00

5.400.000,00

-30.600.000,00

 

SUB-TOTAL

540.000.000,00

81.000.000,00

-459.000.000,00

TOTAL (cenário 2)

 

612.714.916,68

192.600.000,00

-420.114.916,68

De acordo com o novo contrato proposto, o Clube Atlético Mineiro receberia luvas de R$ 16.500.000,00 divididas em 30 parcelas, além de aumentar o piso mínimo mensal para R$ 450.000,00.

Neste período, o novo contrato proposto elevaria o faturamento do Clube em R$ 7.722.651,96 anuais. É sem dúvida nenhuma um bom incremento nas finanças do Atlético, porém este incremento é de curto prazo e deixa de existir em 3 anos. Além disso, há de se questionar onde essa quantia será aplicada.

Se os R$ 7.722.651,96 anuais forem utilizados para investir no time profissional, o risco é altíssimo. Este montante seria utilizado para pagar salários e formar um bom time, porém em 3 anos a "festa" acaba e a dura realidade financeira do Clube volta à tona.

Por outro lado, se esses valores forem utilizados visando o saneamento do clube, na renegociação e amortização das dívidas, com certeza, esse montante seria excelente para o Galo, porém, novamente por apenas 3 anos.

2013 – 2027

Nos 14 anos seguintes, temos a diferença entre os contratos cai consideravelmente. O novo contrato traria ao clube um incremento anual de apenas R$ 1.122.651,96 nas suas receitas. Se focarmos apenas na comparação entre o contrato atual e o novo contrato proposto, a diferença pode parecer significativa, pois representa um incremento de 26% em favor do novo contrato. Mas, se formos analisar esta diferença na dimensão do Clube Atlético Mineiro, cujo faturamento anual gira em torno de R$ 60.000.000,00 atualmente, o novo contrato produziria um incremento de menos de 2% na renda anual do Atlético. R$ 1.122.651,96 anuais são insignificantes para a dimensão do Clube Atlético Mineiro.

2027 – 2041

O contrato de arrendamento atual vence em 2027, quando o Clube Atlético Mineiro passa a ser 100% dono do Shopping. Podemos traçar 2 cenários base para analisar este período.

Cenário 1: Considerando que 15% do faturamento equivalem a R$ 356.445,67, 100% do faturamento são R$ 2.376.304,47 mensais, ou R$ 28.515.653,60 anuais.

Cenário 2: Considerando que 15% do faturamento equivalem a R$ 450.000,00, 100% do faturamento são R$ 3.000.000,00 mensais, ou R$ 36.000.000,00 anuais.

O novo contrato propõe mais 15 anos de arrendamento. Neste período, o Clube continuaria então recebendo os mesmos valores do período anterior, ou seja, R$ 450.000,00 mensais, ou R$ 5.400.000,00 anuais.

Neste período a desvantagem do negócio para o Clube é evidenciada e extremamente significativa. Durante esses 15 anos, as receitas totais do clube, que poderiam ser de até R$ 96.000.000,00 anuais (considerando o faturamento atual de aproximadamente R$ 60.000.000,00) seriam de apenas R$ 65.400.000,00 anuais.

TOTAL

Analisando o período total proposto pelo novo contrato, de 2009 a 2041, vimos uma perda de mais de 60% para os cofres do clube.

Enquanto no contrato atual as projeções são de um faturamento total de pelo menos R$ 500 milhões (cenário 1), podendo chegar a R$ 600 milhões (cenário 2), pelo novo contrato proposto, este faturamento cairia para R$ 190 milhões.

CONCLUSÃO

De acordo com os números analisados, todos eles baseados em valores presentes, fica evidente que o Clube Atlético Mineiro seria bastante beneficiado no curto prazo com o novo contrato. Nos próximos 3 anos a entidade teria um ganho considerável. Porém, nos 29 anos seguintes as perdas do contrato são alarmantes. No período total analisado, o Clube teria uma perda de no mínimo 62% em seu faturamento.

O Clube Atlético Mineiro tem que ser planejado e administrado com o foco na sustentabilidade de longo prazo.

De um lado temos o contrato atual, onde teremos mais 17 anos de dificuldades financeiras e em seguida a redenção financeira do Clube.

Do outro temos o novo contrato proposto, onde teremos 3 anos de relativa bonança e mais 29 anos com as dificuldades financeiras de volta ao Clube.

Fica evidenciado que o novo contrato proposto pela Multiplan está longe de ser um bom negócio para o Clube Atlético Mineiro, muito pelo contrário, o novo contrato seria um péssimo negócio.

Esta decisão mexe com a estrutura financeira do Clube Atlético Mineiro nos próximos 32 anos e com a vida de 10 milhões de atleticanos nesse período. A geração que viu o Galo dos anos 80 viverá esse período de alguma forma impactada, positiva ou negativamente, pela decisão a ser tomada nesses próximos dias pelos dirigentes do Clube. É uma decisão de grande responsabilidade e deve ser analisada, pensando única e exclusivamente no Clube Atlético Mineiro e nos atleticanos espalhados pelo mundo. Qualquer precipitação e ou falha de avaliação pode ser fatal.

Como nosso presidente fala, e com toda razão, não estamos atrás de migalhas! O Clube Atlético Mineiro é gigante e é viável economicamente, desde que bem administrado!

O presidente Kalil está fazendo um grande trabalho a frente do Galo, mesmo com todas as dificuldades financeiras que o Clube enfrenta no presente. Este trabalho será recompensado no futuro! O Atlético tem que ser um gigante com força financeira no longo prazo e não apenas nos próximos 3 anos!

RESPONSABILIDADE! Esta é a palavra de ordem para os que vão decidir o futuro do Galo!

2009 – 2012

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/