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Blog do Juca Kfouri

Altitude é 'frescura'

Juca Kfouri

24/12/2007 11h31


Por Luis Fernando Correia


Comentarista da CBN


 


Cientistas da Universidade de Oxford analisaram cientificamente a influência da altitude nos jogos de futebol. Segundo a pesquisa, publicada na última edição da revista "The British Medical Journal", os times do alto das montanhas aumentam as chances de vitória de 53% para 82%, quando enfrentam times que vêm do nível do mar.




Para chegar a essa conclusão, os estatísticos analisaram o banco de dados da Fifa que contém resultados de 1.460 jogos, num período de cem anos. A América do Sul foi a principal fonte de pesquisa, pois aqui se encontram as maiores diferenças de altitude em jogos internacionais. Um bom exemplo é o Rio de Janeiro, que fica ao nível do mar, e La Paz, a 3.650 metros de altitude.

A altitude afeta o funcionamento do corpo dos atletas que viajam para jogar sem períodos de adaptação, a chamada aclimatação. Por causa da menor pressão atmosférica, uma quantidade menor de oxigênio entra no corpo a cada inspiração. Essa redução de oxigênio no organismo provoca dor de cabeça, náuseas, tonteira e fadiga. Além disso, as temperaturas são mais baixas e o ar é mais seco.

Ao comparar os placares dos jogos entre times de altitudes diferentes, ficou comprovado que a vantagem numérica das equipes da Cordilheira dos Andes se traduz numericamente em aumento das chances de marcar gols, e menor número de gols sofridos.

Comparando os principais times da América do Sul –- Brasil, Argentina e Uruguai -–, a países localizados em altitudes mais elevadas, a vantagem de se jogar nas montanhas contra uma equipe de um país ao nível do mar sobe para 82%, contra 53% se os dois times forem de mesma altitude.

A cada 1.000 metros de diferença, o time da casa ganha quase meio gol de vantagem. Portanto, a Bolívia jogando em La Paz, 4.082 metros em seu ponto mais alto, numericamente sai com 1,48 gols de vantagem sobre um time do nível do mar.

Os cientistas foram capazes de determinar que, somente por conta da altitude, existe um aumento da chance do time da casa marcar um gol, e ao mesmo tempo diminui em 50% a chance do goleiro ver a bola no fundo da rede.

Apesar de esclarecida a questão médico-desportiva, o assunto é controverso do ponto de vista político do futebol. Entretanto, a Fifa acaba de aprovar, no último dia 15 de dezembro, em Tóquio, uma determinação para que não ocorram jogos em altitudes acima de 2.750 metros, sem o devido período de aclimatação, estimado em dez dias. Essa resolução passa a fazer parte imediatamente dos regulamentos da entidade e a Fifa recomenda que seja seguida em todos os jogos internacionais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/