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Blog do Juca Kfouri

A "teoria da conspiração"

Juca Kfouri

29/06/2006 11h59

Para aplacar a curiosidade de muitos blogueiros e para explicar, de uma vez por todas, porque tenho dito que não deixarão o Brasil ser hexacampeão — sem prejuízo da simples constatação de que com o futebol que a Seleção está jogando nem mesmo merece o título.


Que fique claro, portanto, que não é uma desculpa antecipada para eventual derrota, até porque não estou nem nunca estive entre aqueles que imaginam que roubaram o Brasil na final de 1998.


A Seleção perdeu ali porque a França jogou muito melhor e se o time brasileiro estava traumatizado — e estava — a culpa foi de quem pôs Ronaldo para jogar sem condições.


O próprio Zagallo, por sinal, ontem, em entrevista à ESPN-Brasil, disse que Ronaldo não estava bom naquele dia e que Zidane estava, mas que, agora, será diferente porque ambos estão bem e o brasileiro é mais decisivo, mais goleador.


Mas vamos à "teoria da conspiração".


Quem cria tais teorias é maluco e eu não ainda não fiquei doido.


Durante anos ouvi que eu via corrupção em tudo e que exagerava na dose.


Até que vieram as CPIs da CBF/Nike e do Futebol e a opinião pública pôde constatar que a coisa era muito pior do que eu revelava.


Em nenhum momento eu disse ou escrevi que a Copa de 2006 está vendida.


Disse, escrevi e reitero que tenho bons motivos, e informações, de que a Fifa não quer o hexa.


Não quer para não fortalecer Ricardo Teixeira que aspira o posto de Josep Blatter nas eleições de 2007.


Blatter se sente traído pelo cartola brasileiro e por isso até já começou a falar que há outros candidatos para sediar a Copa de 2014 — Copa que era dada como favas contadas de que seria no Brasil.


Quem viu o sorteio da Copa de 2006 há de ter percebido que Blatter e Teixeira mal se cumprimentaram quando dividiram o mesmo palco.


E Blatter não poupou, recentemente, Teixeira em conversa, em off, com pelo menos um jornalista estrangeiro.


Mas há mais: a Fifa teme que o hexa se converta em octa, caso a Copa seja mesmo no Brasil, pois não passa pela cabeça de ninguém que se perca outra Copa em casa.


O hepta viria na África do Sul, porque o Brasil ganhou suas cinco Copas anteriores em países que não tinham tradição no futebol – Suécia, que até tinha um pouco, em 1958; Chile, em 1962; México, em 1970; Estados Unidos, em 1994 e Japão/Coréia do Sul, em 2002.


Na Inglaterra, em 1966, na Alemanha, em 1974, na Argentina, em 1978, na Itália, em 1990 e na França, em 1998, não ganhou.


Como não ganhou, é verdade, em outras ocasiões semelhantes à Copa na África do Sul.


E o octacampeonato seria ruim para o negócio das Copas, que perigam ficar monótonas.


É claro que o perigo começa agora, nas quartas-de-final, semifinais e final, porque antes disso também não interessava à Fifa ver um campeão cair — e não caiu nenhum.


Mesmo assim, tenho dito e escrito, que se a Seleção jogar o que sabe pode frustrar a Fifa, ao ganhar de seus adversários e das arbitragens.


Mas que, DIFERENTEMENTE, do que tem sido tradicional, desta vez, daqui para frente, em dúvida, os árbitros apitarão contra o Brasil.


Não aceito, apenas, que, como fez o próprio Ricardo Teixeira, se diga que não existe mais manipulação no futebol, que isso é coisa do passado, folclórica, história de boitatá.


Porque houve escândalo de arbitragem nos últimos três anos simplesmente nas três maiores potências do futebol mundial — na Alemanha, em 2004. no Brasil, em 2005 e na Itália, neste ano, seja por causa de apostas, seja para fazer um time campeão.


E se existe manipulação no futebol, por que a Copa do Mundo, seu maior evento, estaria fora de risco?


Isso sim é conversa para boi dormir.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/